Bernart e Beth Zaleman: ótimas atuações. Foto Ricardo Elkind

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 25.08.1996

Barra

Humor judaico em cena 

Paxá Prajá é o segundo espetáculo para crianças produzido pelo Centro Cultural Gama Filho para o Teatro Dina Sfat – o primeiro é Gasparzinho, O Musical, agora no Teatro do Leblon. A iniciativa pioneira – o próprio Centro produzindo suas peças – tem levado um novo público ao teatro. Um método, sem dúvida nenhuma, eficaz para a formação de plateia fora do circuito comercial.

O espetáculo, que se intitula como a primeira chanchada infantil, tem história original de Mathilda Kovat, transporta para a cena pela autora em colaboração com Patrícia Wuillaume. Mas o que era interessante de ser lido chega ao palco em cenas fragmentadas para enredo não muito consistente: em Cosmotinopla vive um paxá dando ordens. A economia do reino é a manufatura de almofadas, o esporte preferido é o almofadoboll. O paxá em 38 anos e ainda usa fraldas, trocadas por sua mãe, uma ex-vedete de teatro de revistas que largou a carreira para cuidar do filho. Para dar um jeito nas coisas, chega ao reino Madame Brava, e, como diz a autora. Madame Brava é judia e judia do paxá. Tudo acaba em festa de casamento com alegre cerimônia idichi.

A peça, que pretendia reverenciar a Atlântida cinematográfica, se converteu, salvo grande engano, na primeira montagem a levar o cultuado humor judaico para a plateia infantil. Em cena, a idichi mama, que faz qualquer sacrifício pelo filho homem, até mesmo largar a carreira, desde que este continue a seu lado. Para neutralizar a mama, só mesmo outra guerreira com apelos mais fortes. O paxá que dá título a peça só não entra de coadjuvante em sua própria história porque o personagem é interpretado por Isaac Bernart, um ator cheio de recursos cômicos que consegue interligar as cenas, as vezes muito lentas, com seu natural tempo de comédia.

Mas se o interessante texto literário tem problemas de dramaturgia, o elenco salva o espetáculo com suas performances. Clarice Niskier é Madame Brava em linha displicente oposta do que se esperava de um personagem decisivo. Beth Zaleman, interpretando vários personagens, tem grande atuação, usando o gestual da mímica mesmo para o texto falado Isaac Bernart costura o espetáculo com presença marcante.

A direção de Joyce Niskier cuida dos atores no que eles tem de melhor mas não se interliga as cenas do espetáculo com ritmo desejado. As lacunas que se apresentam na primeira parte da peça só não atrapalham a encenação pela intervenção do elenco. Na parte final, é bem-vinda a inclusão de fotos montagens exibidas no telão com imagens do Paxá e de Brava, nos recantos mais exóticos do mundo. Os cenários de Miguel Paxá, sem muitos efeitos, ambientam a cena modestamente. De interessante, o enorme painel de retalhos que cobre o fundo do palco. Os figurinos de Bel Barcellos, mesmo cheios de detalhes de humor, se perdem na dimensão no palco. Já os bonecos de Fernando Santana tem a assinatura de qualidade do artista. O mesmo não acontece com iluminação de Jorginho Carvalho, que está aquém dos seus últimos trabalhos.

Paxá Prajá é um espetáculo de humor, com excelente elenco, feito com o maior respeito ao público que pretende conquistar. Acertando o ritmo, consegue.

Cotação: 2 estrelas (Bom)