Matéria publicada no Jornal do Brasil, Caderno B
Sem Identificação – Rio de Janeiro – 07.04.1996
Parque Lage vira a Terra do Nunca
Peter Pan, utiliza cenário natural para mostrar o personagem na pouco conhecida versão original
O Parque Lage foi transformado na Terra do Nunca. Aos sábados e domingos, desde o dia 30 de março, quando estreou a peça itinerante Peter Pan, em montagem de Christiane Jatahy, o jardim do parque tem sido cenário da história encantada escrita por James M. Barrie e recriada, em sua versão mais conhecida, pr Walt Disney. A cada apresentação, a partir das 16h30, cerca de 250 pessoas caminham lado a lado com a fantasia, lembrando o formato do espetáculo Robin Hood, encenado nos jardins da PUC-RJ, na Gávea. O ingresso é gratuito, bastando retirar uma senha momentos antes do espetáculo. Nesta versão, Peter Pan não é o menino voador, de roupas verdes que não quer crescer. Nem o temido Capitão Gancho, até hoje um vilão trapalhão nas mentes de quem assistiu ao filme dos estúdios Disney, é o mesmo.
Baseado no romance original de James M. Barrie, o espetáculo, voltado para o público infanto-juvenil, mergulha na mitologia grega para estabelecer comparações e trazer uma visão mais profunda de Peter Pan. “Ele carrega no seu nome o mito Pã, que também vive na floresta ao lado de seres mitológicos como fadas e sereias. Analisando a obra original podemos perceber que Peter Pan é muito diferente da imagem impregnada no nosso inconsciente. A peça é uma visão menos romanceada da história e as crianças têm sido capazes de entender”, explica Cristiane Jahaty, lembrando que muitas delas, depois de assistir ao espetáculo, ficam mais surpresas com o fato de Gancho não ser tão mau e de Peter não ser um herói.
Segundo as comparações estabelecidas pela diretora entre o espetáculo e o romance de Barrie, “Peter Pan é um personagem mitológico, não humano, instintivo, impulsivo e animal”. Mas a curiosidade da peça não está só na nova construção de Peter. “O Capitão Gancho ganha um ar grotesco risível, quase medieval. E a fada Sininho é uma das grandes atrações do espetáculo. Ela voa mesmo durante uma cena deixando adultos e crianças admirados”, conta Cristiane, lembrando que o espetáculo percorre grutas lagos e jardins do parque.
Os 22 atores do grupo de teatro Ôtal, que realizam o espetáculo, são estudantes do Centro de Experimentação e Pesquisa Teatral, que há três anos vêm trabalhando com atores jovens. Durante a produção da peça, todos participaram pintando figurinos, limpando lagos e construindo uma caravela de verdade onde se dá a luta final entre Peter pan e o Capitão Gancho.