Crítica publicada  em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 16.12.1981

Barra

Numa festa é melhor ter segurança ou liberdade? 

Ao assistir a Parabéns pra Você, criação coletiva em cartaz no Teatro Cândido Mendes, fica no ar uma curiosidade: o que será que se passa na cabeça e no coração das crianças ao verem no palco, de um modo crítico, um momento tão importante de suas vidas como é a festa de seu aniversário? A primeira impressão é a de que as crianças curtem bastante, já que Parabéns pra Você, procura mostrar a festa do ponto de vista das crianças e, por isso, a forte figura da mãe é absolutamente caricata, grotesca, ridícula e, ainda sob o ponto de vista das crianças, inteiramente engraçada na sua ânsia de organizar de modo perfeito e sem falhas o que – para ela – seria uma festa de aniversário ideal para seu filho. As crianças estão preocupadas em se reunir, em brincar, em ganhar presentes e em comer doces. As crianças cultivam o prazer da festa enquanto a mãe, ansiosa, cultiva uma futura úlcera ao defender (pelo comportamento e não verbalmente) princípios filosóficos como “a segurança é mais importante que a liberdade”; ou, ainda, “prefiro a injustiça à desordem”.

O espetáculo, dirigido por Ariel Coelho, tem, como qualidade principal, opção pelo estilo: uma mistura de interpretação solta, leve (prejudicada pela composição de alguns personagens-criança no nível do tatibitate) com um ritmo ágil e com o senso crítico existindo através do humor, infelizmente, esse ritmo ágil não chega a dominar todo o espetáculo, que vive, então, num balanço entre alguns momentos extremamente interessante e outros que vão se esvaziando progressivamente, produzindo a dispersão do público. Entretanto, a maior parte da encenação tem um tom vivo. Quem sabe alguns cortes retirariam os tempos mortos e dariam à encenação a dinâmica ideal?

Os atores parecem muito à vontade, gostando do que fazem: é visível que não só a plateia, mas também o elenco se diverte durante a apresentação de Parabéns pra Você. Merece destaque o trabalho de Rosane Goffman como a mãe: através de seu comportamento, de tons de voz, de olhares, de um bom jogo de expressões faciais, Rosane dá, ao espectador, o tom exato de uma mulher angustiada, insegura e, por extensão, repressora.

As crianças ficam ligadas a maior parte do tempo e curtem, especialmente, o robô e a sucessão de quadros no final, quando caem por terra todas as aspirações maternas de realizar um a festa organizada e instala-se o caos, a liberdade fora dos limites, comportamento típico de quem se vê, de repente, saindo de uma longa repressão.

Uma observação final: a tão verdadeira (e triste) omissão do pai em toda a festa. Caso ele participasse, a mãe certamente teria menos carga para carregar, seria menos ansiosa e repressora e a festa seria realmente um momento em que as pessoas se encontram e se divertem. Vale a ver.