Cientistas, anjos e crianças em luta no Teatro Alasca

Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 14.07.1979

 

Barra

Um papo agradável

Depois de quatro anos, é remontada, no Teatro Alasca (ex–cine Alasca), a peça Papo de Anjo, de Ricardo Mack Filgueiras, terceiro lugar no Concurso de Dramaturgia Infantil do Serviço Nacional de Teatro, versão 1974. Mantendo a linha do lugar comum, quando o cientista mais uma vez é louco, leviano, irresponsável e sem sentimentos, a peça nem por isso deixa de trazer um certo interesse para a plateia infantil. As crianças embarcam, principalmente, na ideia central da trama (um anjo caído na Terra feito prisioneiro de um cientista mau) e na curtição da máquina Sentitec, com suas luzes e sua capacidade de retirar os sentimentos das pessoas. Quatro anos depois, confirmo a existência de falhas estruturais no texto, citadas na analise do espetáculo original, montada em 1975 no Teatro Gláucio Gil;

1ª) para que a peça possa se desenvolver, os personagens adotam atitudes incoerentes. Por exemplo: ao invés de colocarem logo o Anjo Gabriel para receber a descarga do Sentilec, os cientistas preferem deixar para amanhã, sem qualquer motivação lógica; e

2ª) não há qualquer necessidade de fazer uma demonstração da máquina ao anjo para que ele concorde em entrar nela. Sendo prisioneiro, o anjo entraria na máquina de qualquer forma, por bem ou pela força.

Apesar disso, a peça corre bem. A direção de Ari Coslov é correta e mantém um bom nível em todo o espetáculo. Sem ser uma direção que se caracterize pela criatividade, sua tônica está colocada no bom e homogêneo resultado obtido com o elenco. A montagem funciona basicamente em cima do trabalho dos atores, que sustentam bem cada cena, destacando-se Dirce Migliaccio, muito engraçada e comunicativa como a cientista-chefe.

O espetáculo começa bem bonito, com a viagem-balé do foguete, criando um expressivo resultado visual. Essa conquista visual, entretanto, vai se diluindo aos poucos, porque tanto Marco Antonio Palmeira (cenário) e Jorge Alberto (figurinos) não foram muito felizes em suas concepções. Nota-se um cuidado com a produção que não consegue, entretanto, compensar a pouca criatividade visual.

Papo de Anjo é um divertimento agradável para as crianças. É mais um espetáculo que vem se juntar a um, grande número de peças em cartaz hoje, No Rio, e que, se não chegam a ser brilhantes, alcançam seu objetivo principal que é o de fazer um teatro para crianças, respeitando-as.