Cena do espetáculo As Paparutas

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 23.05.2014

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Estreia de Lázaro Ramos no teatro para crianças é desfile de erros

Último fim de semana para (não) ver este tremendo equívoco chamado As Paparutas

Sabe uma peça para crianças que quer ensinar o respeito às diferenças e, para tanto, faz os atores falarem quase a cada cinco minutos a frase: “Temos de respeitar as diferenças”??!!  Assim é a chatíssima As Paparutas, em cartaz felizmente só até este fim de semana no teatro do MuBe, em São Paulo.

O espetáculo é um grande equívoco, a começar pelo texto assinado pelo grande e talentoso ator de cinema e televisão Lázaro Ramos. Primeiro texto dele para o público mirim – vamos dar a ele esse desconto, uma espécie de beneplácito. Que não desista. Mas, pena, começou equivocado. Não quero ofender Lázaro Ramos. Mas alguns autores como ele, que não acompanham o que seus pares andam fazendo de bom, demonstram em sua dramaturgia que ainda encaram o teatro para crianças no diminutivo: pecinha, teatrinho, liçãozinha de moral. Você já reparou como carioca nunca oferece bala, goma, drops, mentex, tic-tac? É sempre assim: ”Quer uma balinha?” Pode ser o cara mais barbado e sisudo, mas o papo é sempre esse, no teatro ou no cinema: “Vou ali comprar uma balinha.” Esse exemplo me ocorreu agora para ajudar a ilustrar o que muitos autores ainda pensam sobre o teatro infantil.  Uma balinha.

Um texto feito mais de sugestões, simbologias e metáforas funciona bem melhor do que ficar martelando o tempo todo, de forma explícita, a mensagem que se quer passar. É isso o que faltou em As Paparutas. Sutileza. Já cansei de escrever que teatro não é sala de aula. Encenador que pensa que tem de ser professoral só porque está se dirigindo a uma plateia infantil é encenador que confunde arte e educação. Isso é básico. Mas, puxa, como ainda temos artistas que acreditam nesse erro…

Outro problemão do texto de Lázaro Ramos: quando ele não sabe mais como lidar com a carpintaria, interrompe e faz perguntas para a plateia, naquele que já se constitui o mais pobre e batido dos recursos utilizados ao longo dos anos pelo teatro infantil.  Isso é tratar criança de forma paternalista. Isso é subestimar a capacidade das crianças de acompanhar um enredo fabular sem a necessidade de interromper a todo momento a narrativa para reforçar conceitos e fingir interatividade. Socorro!

A direção de As Paparutas, a cargo de Luiz Antonio Pilar, também é pífia, pobre, sem criatividade nenhuma. Pilar demonstra não ter a menor noção de como dirigir atores. O elenco é todo errado. As marcações não poderiam ser mais ultrapassadas. Todos gritam mais do que deveriam. Gesticulam de forma estereotipada. Não sabem articular as palavras. Quando as atrizes manipulam as bonecas-paparutas, não se consegue entender o que elas dizem por trás dos panos do cenário – aliás, cenografia e figurino não poderiam ser mais poluídos visualmente.

É inacreditável ver como está mal dirigido um ator de nome Samuel Melo, proveniente do Grupo Nós do Morro, fazendo papel de um garoto (o narrador e protagonista Jovi). Não tem poesia, não tem alma. Sua atuação (apoiada por um figurino ridículo e ultrapassado) é toda feita na base da caricatura de uma criança boboca e gritalhona. Ofende a garotada.

Pretendendo falar de diferenças e com um enredo baseado na riqueza da cultura popular nordestina ligada à culinária, ‘As Paparutas’ só consegue ser arrastada, verborrágica, rasteira e, sobretudo, amadora. Ainda assim, uma das atrizes, Maria Gal, também idealizadora e ‘coordenadora geral’ (?) do espetáculo, gaba-se no programa: “As Paparutas é um presente para o Brasil.” Meu conselho: recusem esse pacote mal ajambrado, brasileiros. O teatro para crianças e jovens feito hoje em nosso País já está a anos-luz de distância desse embrulho.  Só faltam saber disso Maria Gal, Lázaro Ramos e Luiz Antonio Pilar.  Que aprendam com os erros de suas paparutas histéricas e inconsistentes.

Serviço

Teatro MuBE Nova Cultural
Rua Alemanha, 221, Jardim Europa
Tel. (011) 4301-7521
Ingressos: R$ 30 (inteira)
Sábados às 15h  e domingos às 11h
Até o dia 25