Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 30.07.2005
No meio do caminho
Montagem de Palhaçadas não explora as possibilidades do texto
Palhaçadas é o espetáculo teatral infantil do Núcleo de Estudos de Teatro de Campos. O texto de João Siqueira é um dos infantis mais montados no Brasil nos últimos 20 anos. Ele se mantém sempre atual, pois fala do sonho, da fantasia e da capacidade de criar do ser humano. Utiliza-se do nonsense e consegue transmitir conceitos sobre a vida e a arte através de um diálogo ágil, rico e inteligente.
O conflito está na forma de viver diferenciada e antagônica dos dois personagens, que Siqueira confronta todo o tempo, um como contra ponto do outro. Tudo se desenvolve na medida em que um personagem vai influenciando e modificando o outro, até eles se encontrarem em sua essência do criar.
A fábula é a de um executivo, que representa o sistema, e que encontra numa praça um palhaço que representa a ruptura com o estabelecido pela sociedade e que havia fugido do circo. Um diálogo ágil, inteligente, conduz a ação.
Mas a leitura feita por Sisneiro, o diretor, fica no meio do caminho, perdendo fantásticas oportunidades cênicas que o texto oferece, quando, por exemplo, fala das muitas viagens, de um safari, do deserto, um exercício da fantasia, e que, no espetáculo, torna-se uma simples série de citações.
O texto, aparentemente simples, mas sutil, requer uma interpretação consciente de seu conteúdo, de suas questões e da visão de mundo do autor.
A forma superficial de trabalhar a obra de Siqueira percorre todo o espetáculo, com as diversas linguagens cênicas que o constroem não suficientemente bem desenvolvidas. Não há cenário. Trabalha-se na caixa preta, com o palco nu. Mas quando a proposta é essa, o espaço tem que estar impecavelmente bem acabado para cumprir sua função de neutralidade e realce a “realidade” cênica. E a caixa preta do Teatro Gláucio Gil deixa a desejar.
O cenário, também de Sisneiro, constitui-se de quatro cilindros, que funcionam como um banco de praça, mas nem são absolutamente neutros nem acrescentam um significado à cena. Há indefinição também nos figurinos, igualmente assinados por ele. A abordagem superficial deixa pouco definidos personagens e situações.
A luz, também do diretor, é apenas correta e não agrega significado ao espetáculo, assim como a trilha sonora, que deixa muito a desejar, não só na sua concepção, mas também na sua reprodução, de má qualidade técnica.
Os atores Alexandre Ferram, que faz o palhaço, e Felippe Manhãs, que faz, com muito empenho, o executivo, têm uma atuação satisfatória, mas ainda superficial diante das possibilidades do texto, além de lhes faltar precisão e acabamento. Conseguem, entretanto, desincumbir-se de forma satisfatória de sua função de contar a história.
Uma direção com uma visão mais aprofundada do texto e que fosse mais exigente em relação a acabamento, precisão e aprofundamento das diversas linguagens que constituem o tecido teatral, nos ofereceria um espetáculo de qualidade infinitamente superior.