Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 25.05.1976
Palhaçadas também à noite
No Teatro Cacilda Becker existe um bom programa para as crianças maiores. Partindo de um progressivo faz-de-conta, com eventuais, quebras causadas pela volta à realidade, o texto de João Siqueira é, sempre uma proposta de jogo. A peça se desenvolve no palco como evoluem as brincadeiras das crianças num quintal. Com uma boa utilização do humor, João Siqueira vai levando seu texto de forma que a plateia fique sempre interessada; e o humor não é apenas verbal, mas é também, cênico. A peça de vez em quando escorrega em algumas frases de gosto duvidoso ou de excessiva obviedade (No meu prédio ninguém conhece ninguém; isso é triste; Se a gente se conhecer muito vou ficar preso a você), mas de um modo geral, o texto é inteligente, vivo, criativo (Não estou aqui. Estou longe).
A direção do autor adota uma linha de simplicidade (brincadeiras de quintal) e de firmeza. Fica bem clara a preocupação de o diretor em explorar cenicamente cada ação (ver o início sem palavras, marcado por uma linguagem comicamente inteligente; ver o cuidado com os gestos; a ação de abrir a mala etc). Há um constante interesse do diretor na elaboração dos ritmos, e a movimentação dos atores carrega sempre a preocupação de ampliar a linguagem do texto.
Os atores estão firmes, com domínio de seu trabalho destacando-se Rômulo Marinho Jr., que mostra mais soltura e disponibilidade. Com um rosto expressivo e muito engraçado, ele tem o grande mérito de fazer o papel de criança sem ser criançoide e tatibitate (o que, algumas vezes, João Siqueira não consegue evitar). Os dois demonstram uma boa preparação e expressividade corporal, destacando-se, neste aspecto, a performance de João Siqueira. A acrescentar, o rosto simpático e sempre participante de Maria Gislene,a violonista cujos olhos acompanham, analisam e enriquecem a cena.
Palhaçadas, no Cacilda Becker, é um espetáculo agradável, alegre e simples. Até dia 30 ele estará em cartaz também no horário das 21 horas, numa tentativa de atingir os adolescentes e adultos.