O espetáculo da ONG Palco Social tem quase 40 crianças em cena: contagiante brincadeira


Crítica publicada no Jornal do Brasil 
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 15.04.2006

 

 

 

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Sinceridade rara

Espontaneidade dos pequenos atores em Pagando Mico comove

Pagando Mico é mais um trabalho da ONG Palco Social – Oficinas de Criação de Espetáculos, que funciona atualmente no oitavo andar do edifício do Teatro Glauce Rocha e que vem desenvolvendo um trabalho social cuja base de ação é o teatro. O projeto foi iniciado há mais de dez anos, no Centro Cultural Calouste Golbenkian, tendo passado depois pelo Teatro Ziembinsky. Agora está abrigado nas dependências da Funarte, onde Ernesto Piccolo e Rogério Blat continuam a desenvolvê-lo com sucesso.

Em Pagando Mico, a liberdade de criação do grupo se ampliou, a ponto de os temas, os textos e a própria direção serem definidos por integrantes da ONG, que idealizou o espetáculo a partir das seguintes questões: mentir ou falar a verdade? Quais os limites da mentira? O texto ficou a cargo de Daniel Lopes, Newton Souza e Viviane Maranhão e a direção é de Edward Boggis. Mas todas as instâncias têm a supervisão de Blat e Piccolo.

Com quase 40 crianças em cena, o espetáculo se movimenta em blocos, o que é um facilitador pra o jovem elenco, além de criar uma imagem de impacto visual. A espontaneidade dos pequenos atores é comovente. A alegria e o prazer de estar em cena, falando de suas próprias questões e mostrando seus pontos de vista, emanam uma sinceridade difícil de se ver em espetáculos para crianças. O resultado é uma total empatia entre elenco e público.

Na trama, Guga e Tina estudam na mesma escola. Tina procura agradar aos outros; Guga não poupa palavras para falar o que pensa. Ivonete, prima cearense de Guga, é vítima de preconceito. Certo dia, num concurso de novos talentos, o trio assume a função de jurados e se vê numa situação em que questões éticas como sinceridade, hipocrisia, disputas de poder e honestidade vêm à tona.

Tudo é muito simples e verdadeiro no espetáculo. Os figurinos de Pedro Sayad e Leonardo Braza são absolutamente competentes ao encontrarem o ponto certo entre a recriação artística e o real, reforçando a verdade em cena.

O cenário de Bruna Madureira de Pinho com ilustrações de Maryam Ghavami e Bruna Madureira de Pinho criam a ambientação necessária para a história contada, assim como  a iluminação de Tiago Mantovani e Jorge Raibott.

Nada é em excesso, todas as linguagens são usadas com simplicidade – coisa difícil para quem lida com teatro infantil, que tenta incessantemente entender e reproduzir este imaginário. Mas para as crianças, é só deixá-los brincar, soltos, que surge um espetáculo alegre, divertido, encantador.

Pagando Mico conta ainda com a preparação vocal de Rose Gonçalves, a preparação musical de Adriana Piccolo e coreografias de Sueli Guerra. Há também um elenco adulto: Dulce Mariston – que se destaca por seu humor como a diretora da escola – Dilene Prado, Eduardo Torres, Fabio Tamboridegh, Manu Freire e Renata Oliveira. Todos são adultos absolutamente integrados no prazer infantil de viver a essência do teatro: o jogo.