Crítica publicada em O Estado de São Paulo
Sem identificação – São Paulo – 07.02.1987
Os vôos de Peter Pan
O menino que decidiu não crescer está em nova montagem, bem mais sofisticada
Ele nasceu pela imaginação do inglês sir James Barrie. E fez sua estreia em 1904, nos palcos londrinos. Mas como desde seu primeiro momento de vida decidiu que nunca iria crescer, Peter Pan continua um garoto. Com uma longa carreira que inclui também o cinema – foi imortalizado nos desenhos de Walt Disney -, o garoto que não queria crescer serviu até de inspiração para as teorias de Dan Kiley, reunidas em seu livro Síndrome de Peter Pan. Mas, agora, o personagem volta às suas origens, o palco.
Primeiro foi a adaptação de Jurandyr Pereira escrita há 15 anos e remontada no final do ano passado pela Companhia Teatral Alma (atualmente em cartaz no Teatro Cacilda Becker). E agora, em nova versão, voando diretamente da Terra do Nunca, Peter Pan chega hoje ao TBC (Rua Major Diogo, 315), numa superprodução.
Com adaptação de Walcyr Carrasco, o musical Peter Pan traz a direção de Jacques Lagoa, que há 18 anos foi o ator principal da montagem de Jurandyr Pereira. “Peter Pan é um instrumento para levar a criança ao mundo da fantasia. A peça estimula e, sem apelos gratuitos, a própria criança desenvolve a imaginação. Essa é a principal função do teatro infantil: dar subsídios para que as crianças se tornem adultos criativos”, analisa o diretor.
Com uma produção orçada em Cz$ 700.000,00, a peça conta com três cenários, assinados por Renato Scripilliti – o mesmo de Uma Cama Entre Nós e Doce Privacidade.
Parte da história se passa em Londres, onde moram os irmãos Wendy (Ana Luísa Lacombe), João e Miguel (interpretados pelos garotos Fabrizio Galli e Danilo Faro – ambos de apenas nove anos). A magia e o colorido da Terra da Nunca compõem um segundo cenário. Mas a maior atração deverá ser mesmo o Navio Pirata, onde Peter Pan enfrenta o Capitão Gancho (Ariel Moshe), numa luta de esgrima.
Toques de humor foram introduzidos na versão de Walcyr Carrasco. Assim, nem a figura do Capitão Gancho “chega a assustar as crianças”, garante Jacques Lagoa. “Ao contrário, o lado ridículo do personagem vai diverti-las. A trilha sonora foi composta especialmente para o espetáculo por Ney Carrasco e Beatriz Linardi. Com os mais diversos gêneros musicais, Peter Pan traz desde o som de uma rumba até uma ária de ópera”.
Nessa montagem, Peter Pan será vivido pelo ator Fábio Mássimo que, além da experiência em novelas, participou no ano passado de Escola de Mulheres e A Morte do Caixeiro Viajante. Agora, Fábio viverá uma experiência diferente: Como Peter Pan, ele poderá voar, através de recursos técnicos (cabo de aço).
O elenco terá ainda Eduardo Silva (Careta), Hélcio Sodré (Cachorra Naná e Crocodilo Tic Tac), Lenita Queiroz (Fada Sininho), Luciene Adami (Sereia). Os luxuosos figurinos estão a cargo de Lu Martan. E a direção geral é do ator e diretor Jacques Lagoa – responsável pela direção, no ano passado de Bailei na Curva, Uma Cama Entre Nós e De Louco Todo Mundo Tem um Pouco, e atualmente trabalhando como ator na peça Drácula.