Os Três Mosqueteiros no Teatro da Praia: montagem confusa

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 06.04.1996

 

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Direção confusa e refrões artificiais desperdiçam texto

O romance Os Três Mosqueteiros,de Alexandre Dumas, é, sem dúvida nenhuma, um dos clássicos mais adaptados para qualquer veículo. Mesmo que o cinema ganhe em versões, o teatro infantil e adolescente, tem se valido do texto para montar bons espetáculos. A história original de Dumas, um capa-espada permeado por deliciosa rede de intrigas envolvendo o Cardeal Richelieu e a corte francesa, fez de Athos, Porthos e Aramis, mais Dartagnan – o quarto mosqueteiro do rei – heróis imbatíveis para um público de qualquer idade. “Um por todos. Todos por um” é um slogan repetido até hoje nas brincadeiras infantis como um grito de guerra, mesmo que a procedência, na maioria das vezes, seja desconhecida.

Os Três Mosqueteiros, em cartaz no Teatro da Praia, é uma versão da obra de Dumas adaptada para o palco infantil por Benjamim Santos. O autor, superencenado nos anos 60 e 70, em montagens como Senhor rei, senhora rainha, Caibaté entre outras, dirigia suas peças dando um toque muito especial nas bem acabadas produções que realizava.

Sua adaptação para Os Três Mosqueteiros, dedicada totalmente ao público mais jovem, tirou do enredo alguns trechos mais conflituosos, como, por exemplo, o amante da rainha, que detém o colar de diamantes, mote e toda aventura. Na versão de Santos, o foco principal fica na lealdade dos mosqueteiros para com a rainha e na bravura com que enfrentam os inimigos do rei.

Mas, se o texto preserva as cacterísticas aventurescas para a jovem plateia, a direção de Victor Hugo Santiago e Luiz Carlos Cavalcanti procurou estender a faixa etária, recheando a peça de cacos absurdos, como: “Segura o tchan…” “na pontinha da garrafa” e outras licenças poéticas, como se os refrãos de gosto duvidosos fossem dar alguma contemporaneidade ao espetáculo.

Num palco sem cenários, embora assinados por Paulo Kandura, que também é o responsável pelos figurinos, estes de melhor efeito, uma profusão de cenas se sucedem, pontuadas por exaustivos black-outs, artifício reconhecido como um dos piores recursos teatrais.

A encenação, confusa, só merece alguma atenção do público quando entram no palco os mosqueteiros, os únicos capazes de dar alguma motivação a cena. Porém, no palácio, as coisas se complicam. As performances da rainha e sua criada Carlota são feitas num tom acima do suportável. Como se a realeza marcasse sua diferença social pelos agudos que emite.

No tom da brincadeira particular, o espetáculo se desenrola sem a participação do público. Enfim, perdeu-se a oportunidade de elevar à nova plateia um texto de um autor tão respeitado pela classe teatral como Benjamim Santos.

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