Crítica publicada no Jornal da Tarde
Por Clóvis Garcia – São Paulo – 03.06.1988
Os Três Mosqueteiros. Quem Não Curte?
E a produção agora em cartaz no Auditório Augusta é bem cuidada, agradando a jovens e crianças.
Transferindo-se do Teatro Jardel Filho para o Auditório Augusta, continua sua carreira uma montagem cuidada da versão de Ney Carrasco para Os Três Mosqueteiros de Alexandre Dumas, produção de Tadeu Menezes Produções Artísticas, Brilho Editorial Promoções e Publicidade e outros produtores associados.
Alexandre Dumas, mestiço, filho de um general francês, foi um dos mais fecundos autores da França no século XIX, com cerca de trezentas obras, sozinho ou com colaboradores (seu filho, Alexandre Dumas Filho, continuaria a tradição paterna, dedicando-se ao teatro, conhecido pela peça A Dama das Camélias). Filiando-se à escola romântica, Dumas situa seus romances em épocas anteriores, com todos os ingredientes folhetinescos das histórias de aventuras. Os Três Mosqueteiros, que eram três, já que D’Artagnan é um aprendiz que recebe o título no final da história, mas que conta as aventuras dos quatro espadachins (com Athos, Aramis e Porthos), é uma das mais populares obras de Dumas, permanecendo até hoje nas livrarias e tendo sido aproveitada para o cinema (inúmeras vezes), para a televisão, histórias em quadrinhos, adaptada ainda, para a literatura infantil. Com seus elementos de intriga política, de romance amoroso e, principalmente de lutas e aventuras, é um clássico de permanente interesse.
A adaptação de Ney Carrasco manteve todos os incidentes essenciais da história original, desde a chegada de D’Artagnan, seu encontro com os três mosqueteiros, as lutas com os policiais do Cardeal, desenvolvendo mais o episódio do colar da Rainha, sem esquecer as trama amorosa da Rainha com o duque inglês e de D’Artagnan com a costureira. Talvez a temática seja mais acessível aos adolescentes, mas o grande número de lutas – e os atores tiveram um ótimo treinamento de esgrima com o campeão Roberto Lazzarini, o que dá verossimilhança aos duelos, com floretes reais e que não são mágicos – o conflito entre os maus – o Cardeal e Milady – de um lado, e os bons ou heróis – os mosqueteiros – do outro, interessam aos de menor idade.
José Ferro, um dos nossos bons diretores de teatro infantil, conseguiu colocar nos limites do palco, todas as aventuras que exigiriam um espaço maior, sem confusões e obtendo um ritmo trepidante para o espetáculo, que sustenta o interesse.
A solução do cenógrafo Chiquinho de Andrade, de uma caixa negra vazia, com apenas elementos e algumas cortinas, permite as mudanças de local sem prejuízo para o ritmo. O colorido fica para os luxuosos e inspirados figurinos de Cissa Carvalho. O elenco está afinado, sustentando a qualidade de um espetáculo que se mantém em alto nível, a começar pelo bem cuidado programa.