A peça faz as crianças rirem com
um tema politizado

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 23.05.1992

 

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Vitalidade de humor em bela farsa

Existem lugares definitivamente marcados por seus frequentadores. O Teatro Ipanema foi, o Circo Voador é e o Mercado São José das Artes, em Laranjeiras, esta a caminho. Os mais preconceituosos perderam grandes espetáculos por teimarem em não frequentar tais lugares. Ou talvez por terem conferido a ele status de verdadeiros templos: o primeiro ao hermetismo, o segundo ao ecletismo e o terceiro ao anonimato.

Os Palhaços no Planalto, em cartaz no Mercado São José das Artes, esta aí para desmentir parte dessa lenda. Com texto e direção de Dinho Valladares, estes palhaços chegam à cena esbanjando uma vitalidade nunca vista no outro Planalto.

O tema é bastante incomum para uma peça infantil – presidente, ministro, dívida externa e plano econômico – pode dar a entender que o espetáculo é algo doutrinário e panfletário, o que absolutamente não acontece. Os palhaços atuam apoiados na farsa circense, sem abrir mão da teatralidade de que tanto necessita o texto, para que não se torne mais uma simples exibição de picadeiro. As citações ao teatro político dos anos 60/70 chegam revigoradas, sem deixar aquela triste impressão dos espetáculos datados.

A trilha sonora, tirada de Madame Butterfly, sincronizada a operação da luz, de maneira semelhante à execução de um concerto para piano, empresta a ação belíssima dramaticidade.

Desrespeitando as características muito comuns aos milhares de circos que existem por aí, dessa vez os palhaços pouparam o público de responder a óbvia pergunta: Hoje tem marmelada? Eles estão no Planalto e já sabem a resposta. Vamos ao circo.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)