Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 24.08.1975

Barra

Bremen está na cuca

A conclusão final é altamente positiva; Bremen está na cuca de todos. Será sempre digna de elogios a tentativa de dar – a crianças – estímulos para uma compreensão da vida de um mundo sempre passível de transformações. Quando se afirma, ao final do espetáculo, que importante é ter olhos e espíritos abertos, a peça cumpre sua finalidade, no que diz respeito a uma das funções do artista; a de estar envolvido com o que se passa a sua volta. Porém, quando se trata de atingir uma outra – a de criar uma obra culturalmente válida, definido com precisão diferenças entre intenção e realização, entre discursos e obras de arte – aí, então, Os Músicos de Bremen deixam a desejar.

Para chegar á positiva conclusão final, entretanto, o espetáculo penetra por estradas muito dispersivas. A peça de Marcos Borges e Walter Berbe é deficiente em termos de estrutura dramática, e a direção de Marcos não consegue derrotar os obstáculos trazidos pelo texto. A montagem fica descosida sem uma linha de desenvolvimentos precisa. Além do mais, a direção é muito apoiada na música, e as canções de Walter Berbe deixam a desejar; apresentando uma linha melódica pobre, marcada por uma coreografia inexpressiva, baseada em movimentos surrados e sem inventiva.

O cenário de Marcos e Zequinha Borges foi totalmente prejudicado pelos elementos de cena de O Voo dos Pássaros Selvagens, (hoje, com o show de Caetano Veloso, os músicos de Bremen poderão utilizar melhor o palco. Mas quem sabe que cenário estará montado no João Caetano, no próximo fim de semana?…). A ideia da tela giratória é bastante boa. Mas, dentro do que foi possível perceber – abstraindo-me do cenário de O Voo dos Pássaros Selvagens – a tela pareceu-me com funções inteiramente decorativas. Os figurinos (da mesma dupla) são inacreditavelmente desiguais. Se as roupas do Galo e do Cachorro são bonitas e expressivas, já as do Burro, do Gato (com aquele buraco na barriga) e da Dona do Cachorro (com aquelas calças de astronauta) são de uma feiura até agressiva. Não há preocupação em criar uma unidade, nem nos feitios, nem nas cores.

E, para sustentar um texto sem estrutura e uma direção dispersiva, existe um elenco muito perdido. Os atores não conseguiram definir uma linha de trabalho: nem se propuseram a interpretar os bichos, nem se preocuparam em estabelecer um estilo de comportamento cênico, que mostrasse que eram atores na função de bichos. O elenco simplesmente vestiu as roupas, decorou as falas, aprendeu os movimentos. Não há a mínima contribuição pessoal! (o único que consegue marcar a sua passagem com personalidade própria é o ator que faz o papel do Burro!)

Se Os Músicos de Bremen explorarem, para eles mesmos, as potencialidades da fala final da peça (Bremen está na cuca de todos) certamente haverá um apreciável progresso na próxima montagem do grupo.

Recomendações:
Maroquinhas Fru-Fru, no Opinião – últimas semanas; Da Metade do Caminho ao País do Último Círculo, no MAM – últimas semanas em novo horário: 17h30; A Viagem de Barquinho, no SENAC – últimas semanas; Estória da Moça Preguiçosa, no Quintal, em Niterói; A Margarida Curiosa Visita a Floresta Negra, na Casa Grande.