A peça tem uma rara qualidade: apelo para conquistar a plateia mirim

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 14.10.1995

 

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Um exagero de situações

Vinícius Marquez e Ronaldo Tasso são a mesma dupla de autor e diretor, que realizou, no ano passado, o premiado espetáculo Tip e Tap – Ratos de Sapatos. Se o texto de Marquez tinha como elemento complicador um final feliz para o casal de namorados – que tinham sido criados como irmãos, mas que enfim descobriram que o parentesco era só um erro da cegonha na entrega dos bebês -, a concepção de Tasso para o espetáculo – incluindo o elenco superafiado e cenários e figurinos muito criativos – superava pequenos deslizes do texto. Em Os dragões, porém, o mesmo não acontece.

Construído como uma espécie de coletânea de situações, protagonizada por figuras de dragões de todo o mundo (e até de fora dele), a história, como não poderia deixar de ser, começa na Lua.

Na comemoração do terral – o lual fora do planeta -, um dragãozinho é sequestrado por uma dupla de astronautas, que o leva diretamente para um laboratório, onde deverá ser autopsiado para estudos científicos. Mas antes de virar uma cobaia de experimentos, o dragãozinho é salvo por um bruxo, muito interessado em recolher ingredientes para suas magias – cauda de dragão e unha de dragão, entre outros.

Mas como, toda família tem o seu destoante, o neto do bruxo salva o dragão das intenções do avô e, antes de embarcar o amigo para a Lua, lhe proporciona uma turnê pela terra. A quantidade excessiva de situações – que se interligam somente para destacar o culto a figura dos dragões em todo o mundo – compromete a sustentação do enredo, que se revela muito mais interessante quando apresentava diálogos bem-humorados para cenas mais intimistas. O que, infelizmente, só acontece quase no final do espetáculo.

A direção de Ronaldo Tasso reúne uma profusão de estilos teatrais no mesmo palco. Assim, o espetáculo tem momentos grandiosos de opera-rock e outros de show business americano, onde a letra da música faz parte integrante da história.

E há muitos outros momentos carregados de humor, que se contrapõem aos de extremo lirismo. A unidade não seria comprometida, se as interferências musicais fossem um pouco mais enxutas e menos adereçadas. O que não significa que a trilha de Eduardo Dusek e a cenografia de João Gomes não tenham seus brilhos isolados.

Mas se a parte turística da encenação – Lua, China, Havaí, Carnaval do Rio, entre outros pontos visitados – se revela atraente apenas para os fãs do impacto visual, os cultores de performances de humor podem se deliciar com as interpretações de Orlando Leal e Suzana Apelbaum, como os astronautas Yuri e Gagarin, e principalmente com o trio Cláudio Mendes, João Rebello e Renato Vieira – respectivamente, o Grande Bruxo, o dragãozinho e o bruxinho.

Numa cena de comédia bem colocada, os atores fecham o espetáculo em grande estilo. De uma maneira ou de outra, Os Dragões tem apelo para conquistar a plateia infantil a que foi destinada. Uma raridade, no atual momento.

Cotação: 2 estrelas (Bom)