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Hoje os contadores invadiram todos os espaços possíveis e isso é um fenômeno mundial. Temos contadores em congressos, simpósios, festivais, proferindo palestras, contando em empresas, teatros, na Internet, tv, rádio, no espaço público e privado, na área acadêmica e na educação informal.

Isso tem sido possível porque muitos contadores perceberam que necessitavam pesquisar e desenvolver uma técnica própria e uma consciência artística.

A arte de contar histórias surgiu muito antes do que outras artes e, portanto quando vemos hoje contadores se apresentando em teatros não podemos dizer que seja algo sem sentido. É levar para a cena uma arte que já foi professada em praças, mercados, casas, palácios, ocas, senzalas, montes. Mas é importante diferenciar teatro da narração de histórias. Inclusive porque nasceram com vocações e funções diferentes.

Uma história sempre é apresentada e nunca representada. O público não é espectador, é interlocutor, já que a história se constrói coletivamente com o contador e o ouvinte. Os personagens dos contos são sugeridos e não vividos pelo contador. No teatro, temos a ação, já no ato de narrar a sugestão que suscita, na imaginação do ouvinte a construção das imagens trazidas pelas histórias. A criação da história é coletiva, para tal o público e o contador coexistem no mesmo tempo e espaço do era uma vez… Todos vivenciam a história. E o mais importante é que, despida de todos os recursos cênicos, a narração sobreviverá sempre, pois a palavra, a voz e o gesto do contador já são a própria cena.

O trabalho do contador está ligado à oralidade artística que contém inúmeras outras formas de expressão oral, como a que usamos nas nossas famílias, escolas, bibliotecas, bares. Daí a importância de percebermos que estamos  vivenciando e compartilhando um momento cultural novo que terá de ser estudado  e aprofundado pelos teóricos, mas que se constitui num movimento cultural mundial de pesquisa e reinvenção de uma arte em evolução. É uma bela contribuição para a renovação da cena dando a possibilidade de trabalhar com os microcosmos ou universos que compõem o mundo. A arte de narrar permite que pequenos grupos consigam expressar seus desejos artísticos através de um contador de histórias. E daí vale o contador que conta sem recursos teatrais, vale também o que os usa, sem se esquecer daqueles que  mesclam narrações e atuações ou dos que usam um mesmo personagem que passa a ser o seu contador que conta histórias. Sem regras, mas com o desejo de experimentar e construir uma nova linguagem, pois tudo pertence a algo maior que se chama oralidade e que não admite limites.

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Benita Prieto
Contadora de histórias – idealizadora do Simpósio Internacional de Contadores de Histórias

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Obs.
Texto retirado da Revista FENATIB, referente ao 8º e 9º Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau (2004 e 2005)