Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 26.03.1994
Uma poção mágica sem efeito
Em tempos tão esotéricos, onde o imponderável já faz parte da rotina, histórias de feiticeiros, que sempre fizeram muito sucesso junto ao público infantil, parecem enredo infalível para cativar uma plateia. No caso, porém, de Os Bruxos, em cena no Teatro Cacilda Becker, a poção mágica desandou e o resultado não é dos melhores.
Dinho Valladares, autor e diretor do espetáculo, que vinha de uma promissora carreira com Os Palhaços no Planalto, de humor cortante e afinada concepção cênica, não repetiu a dose. O que se vê no palco, em Os Bruxos, nem de longe faz lembrar os vigorosos palhaços que nocauteavam o público com sua linguagem explícita e bem-humorada. Ao contrário, a fragilidade do texto amplia as deficiências da direção, sobrando para os demais envolvidos na produção uma carga pesada demais para suportar.
Sempre voltado para temas políticos, Dinho Valladares conta desta vez a história de um bruxo chefe de uma nação, que através de seus poderes mágicos inventa uma fórmula – de ingredientes escatológicos impublicáveis – e cria o gigante Arquibaldo, uma espécie de salvação da lavoura. Entre tombos, cambalhotas, gritarias e músicas intermináveis, Arquibaldo desperta para a vida sem nenhuma ideia brilhante e é levado para a masmorra do castelo pelos assessores do bruxo. Lá, porém, tudo se transforma. O gigante organiza, com seus companheiros de cela, uma sociedade perfeita, onde todos trabalham e ninguém é chefe de nada. A experiência vitoriosa é levada ao bruxo e implantada no reino onde todos provavelmente viverão sem medo de serem felizes para sempre.
A boa ideia do autor acaba se perdendo em cenas excessivamente musicais e de pouca dramaticidade. O esforço do elenco – Ângela Blazo, Erik Rocha, Justo D’Avila e Wagner Coke – não supera deficiência geral do espetáculo, que joga fora uma boa oportunidade para tratar de um tema atual usando arquétipos do imaginário infantil – no caso, Os Bruxos, como acontecia com Os Palhaços no Planalto.
Para felicidade dos envolvidos na produção, o espetáculo se caracteriza por uma linha não comercial. A peça, portanto, não está pronta e acabada, e nesse caso uma reformulação, para acertar as falhas, seria sem dúvida bem-vinda.
Os Bruxos está em cartaz no Teatro Cacilda Becker, aos sábados e domingos, às 17h. Ingressos a CR$ 1.200.
Cotação: 1 estrela (Regular)