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Considerando que escrever teatro para crianças é tarefa das mais árduas e difíceis, pois que inclui fatores indispensáveis à formação de caracteres, à educação, ao aprimoramento das sensibilidades, torna-se difícil analisar um texto e opinar pela sua colocação na Dramaturgia.

Encarando no ponto de vista total a produção de peças infantis na atualidade, creio que o julgamento das peças deve atentar às características seguintes:

a) a satisfação das necessidades emocionais típicas da faixa de idade a que se destina, pois que a fantasia se manifesta de maneiras diversas nas várias etapas do desenvolvimento infantil. Por exemplo: uma criança de 3 anos confunde o real com o imaginário, porém, já na fase discriminativa e concreta, será capaz de separar o real do imaginário.

b) A simbologia é outro fator de grande utilidade numa peça infantil. Por exemplo: as bruxas as feiticeiras os duendes as boas fadas constituem elementos simbólicos inconscientes na integração da personalidade. Objeto bom e mau na integração do ego, ou aceitação de aspectos positivos e negativos na personalidade. Julgo, no entanto, ser necessário dar um tratamento atual a essa simbologia. de modo que se adapte aos interesses das crianças de hoje, sem o uso de palavras piegas e ridículas,

c) O encantamento é necessário e útil, no sentido de que o concreto venha auxiliar na formação do abstrato e que o mundo da fantasia tenha a função de dar equilíbrio e harmonizar, não se opondo porém, ao mundo da realidade.

Da Comunicação

Sendo o Teatro o maior veículo de comunicação integral, a mensagem deve se objetivar a formação de valores positivos, sem doutrinações, mas, estimulando com autenticidade.

Sem dúvida, a participação do auditório é necessária, porém de forma afetiva e interessada, prescindindo dos recursos de apelação ou de estímulos excitantes que, além de sensibilizar o sistema nervoso das crianças mais sensíveis e mais frágeis, promove, ainda, a desordem e a balburdia numa plateia que se prepara para o futuro.

Da Linguagem

No que se refere à linguagem teatral, o julgamento deve atentar aos seguintes preceitos :
a) Linguagem clara, correta e adequada às diferentes faixas etárias.

b) Evitar verbalizações.

c) Diálogos curtos, vivos, dinâmicos.

d) O cuidado de evitar diminutivos em excesso. Por exemplo: menininho, florzinha, bonitinho, etc.

e) Simplicidade nos diálogos, sem o uso do vulgaridade.

f) Evitar o abuso da gíria.

A liberdade criativa, a lógica, a sequencia, a solução da proposição de forma a elastizar a mente infantil e um sinal gratificante, eis o que julgo deve ser considerado na análise de um texto para crianças.

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Zuleika Melo
É escritora especializada em dramaturgia infantil, com várias peças publicadas e montadas; fundadora do Teatro Mineiro de Arte (Belo Horizonte, 1949) e do Teatro Carrossel {Rio de Janeiro, 1959). Prêmios: Secretaria da Educação e Cultura (A Formiguinha que foi a Lua, 1959): Carta à Margarida e Nova Semente cai sobre a Terra (Concurso do Ministério da Educação e Cultura, 1963).

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Obs.
Este texto foi retirado da edição especial da Revista de Teatro da SBAT, referente ao Seminário de Teatro Infantil de Curitiba de 1975, organizado pelo antigo Serviço Nacional de Teatro, do MEC, realizado no Auditório Salvador de Ferrante da Fundação Teatro Guairá, em Curitiba, no período de 3 a 7 de fevereiro de 1975.

Fazem também parte desta Revista os seguintes textos, que podem ser encontrados neste site:

Apresentação do Seminário de Teatro Infantil – 1975, de Orlando Miranda de Carvalho e Beatriz Veiga
A Criança e a Linguagem Televisual, de José Renato Monteiro
A Coragem de Fazer Teatro Infantil, de Maria Helena Kühner
A Propósito de um Concurso de Textos para Teatro Infantil, de Oscar Von Pfull
Desenvolvimento da Linguagem Teatral da Criança, de Helena Barcelos
Possibilidades do Teatro como Processo Educativo, de José Antônio Domingues
Observação Pessoal sobre o Julgamento de Textos para Teatro Infantil, de Zuleika Mello
O Mundo Subjetivo da Criança e sua Interação com o Teatro, de Monica Laport
Realidade Atual do Teatro Infantil no Estado da Guanabara, de Ana Maria Machado
Teatro, Educação Tridimensional, de Joana Lopes