Fotos: Paulo Costa

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 29.04.2016

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O Trem Fantasma procura monstros que consigam assustar

Grupo Polichinelo, de Araraquara, resgata a arte de manipular marionetes

Puxa, sabe quando o cara tem em mãos uma boa história, só que não consegue realizar um bom espetáculo? Esta é a minha avaliação de O Trem Fantasma, da Cia. Polichinelo de Teatro de Bonecos – grupo interiorano que existe desde 1997 em Araraquara e está atualmente em temporada por São Paulo.

Sozinho no espetáculo com muitas marionetes está o pai da ideia, Márcio Pontes. Por mais que se vire com desenvoltura para dar conta de tudo sozinho, a meu ver, ele não consegue. Falta algo, não chega a emplacar. Tudo fica pelo meio do caminho. Vendo apenas esse espetáculo da companhia, só posso dizer de Márcio Pontes, por enquanto, que é um sujeito bem-intencionado e que um dia pode chegar lá, pois já tem tudo ao seu alcance.

Não posso deixar de louvar a iniciativa de ‘resgatar’, vamos dizer assim, a arte de marionetes. Tenho visto sempre muitos bonecos em cena, mas parece que os grupos andam evitando essa que é uma das mais antigas formas de manipulação de bonecos: por fios ou cordéis. Os três componentes que formam uma marionete são: o boneco propriamente dito, fios de manipulação e o comando, ou cruzeta, que é por onde o marionetista controla os movimentos do fantoche. Para manipular as marionetes, é fundamental que o artista conheça os princípios estruturais e mecânicos de movimentos do corpo humano. Com o passar do tempo, esta arte foi incorporando novas técnicas e tecnologias que tornaram o movimento dos bonecos cada dia mais realista. É lindo que ‘O Trem Fantasma’ nos proporcione esse clima de animação de antigamente.

Vejam como o mote é muito bom e divertido: um trem fantasma será inaugurado, mas na hora agá o maquinista é informado de que esqueceram de contratar os “monstros” que deveriam assustar os passageiros durante o trajeto. Sobra para ele ter de recrutar essas criaturas na última hora. Começam a surgir os candidatos, mas sempre algo dá errado e os monstrinhos vão sumindo um a um. Não é legal?

Agora imagine um só ator-manipulador correndo pra lá e pra cá, se escondendo, aparecendo, falando, dublando, enfim, como se diz atualmente: não rola. É muita coisa para ele fazer sozinho. Muitas pausas técnicas são necessárias e acabam atrapalhando o ritmo do espetáculo. A iluminação não dá conta de resolver também certas quebras. No dia em que eu estava na plateia, caiu a perna de um dos bonecos em plena cena – Márcio fez o certo: assumiu para a plateia que o boneco quebrou, em vez de tentar disfarçar inutilmente. Isso faz o teatro ser vivo.

Porém, são tantos bonecos (e todos muito bem confeccionados e caracterizados, diga-se), que acabamos sem muito tempo de ação e interação com cada um deles. Não há uma dramaturgia forte e envolvente e, por isso, acaba virando quase um mero desfile de bonecos, um após o outro, sem que o público se aprofunde nas histórias de cada um deles. No balanço final, a impressão que prevalece é a de amadorismo, quando, em verdade, o grupo já tem tempo e currículo suficientes para se apresentar ao público de forma mais acabada, mais redonda, melhor resolvida. Que venha o próximo.

Serviço

SESC Santo Amaro
Rua Amador Bueno, 505 – Santo Amaro
Tel. (11) 5541-4000
Domingos, às 14 horas. Ingressos: R$ 17,00 (inteira) e R$ 8,50 (meia)
Até 8 de maio