Uma História de violência num palco de brinquedo

Crítica publicada no Jornal O Dia, D Fim de Semana
Por Armindo Blanco – Rio de Janeiro – 19.05.1995

 

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A minimaravilha do Sobrevento

Quem viu Beckett e Mozart Moments virou freguês do teatro de animação feito pelo Sobrevento. Dirigido por Luiz André Cherubini, também interprete e manipulador ao lado de Sandra Vargas, Miguel Vellinho e Alzira Andrade, esse grupo atingiu tão alto grau de sofisticação e apuro técnico que apaixona quem o assiste.

Agora está de volta com outra preciosidade: O Theatro de Brinquedo. Não é um espetáculo para crianças, como Beckett também não era. Trata-se de um delicado jogo de miniaturas, que no século passado era o mais popular dos passatempos. As pessoas compravam folhas de papel, onde vinham impressas personagens de peças teatrais, de Aladim a Hamlet, recortavam as figuras e as colavam em cartolina. E assim, com a ajuda de livrinhos explicativos, todos podiam fazer um teatrinho em casa (hoje é mais fácil, embora menos criativo, alugar videocassetes).

O clima dessas representações caseiras é reconstituído pelo Sobrevento, a partir de uma adaptação da peça A Verdade Vingada, da dinamarquesa Karen Blixen, a célebre autora de A Fazenda Africana, que Meryl Streep interpretou no filme Entre Dois Amores. O enredo, transferido para a Ouro Preto do século XIX, com muitas mudanças de cenários e figurinos, além de músicas de época e efeitos sonoros, não deixa de refletir nossas tradições de violência: o protagonista é um fazendeiro que tem o hábito de matar os viajantes que lhe pedem hospedagem, para tomar seus pertences.

Serviço:
Sala dos Archeiros do Paço Imperial, Praça XV, 48, Centro. Telefone: 224-2407, de quinta a domingo, 19h, R$10, desconto 50% estudantes e maiores de 65 anos.