Crítica publicada no Jornal do Brasil, Caderno B
Por Macksen Luiz – Rio de Janeiro – 27.05.1995
Jogo teatral de delicadezas
O espetáculo Theatro de Brinquedo é um delicioso anacronismo. Esta forma rudimentar – e nem por isso menos delicada – de teatro de animação é apresentada através de uma miniatura de palco, com boca de cena, cenários e atores, tudo em papelão. As formas recortadas dos personagens e a miniaturização do palco criam uma relação especialmente íntima entre o espectador e a representação. Originalmente, o teatro de brinquedo era uma maneira doméstica de diversão, em que um encontro social servia de pretexto para esta representação ingênua. A recriação pelo grupo Sobrevento desta pequena jóia de teatro serve como uma redescoberta do toy theatre, como o chamam os ingleses, e inverte o sentido de urgência da indústria cultural.
Na Sala dos Archeiros, do Paço Imperial, o grupo montou um pequeno sarau, em que dois músicos tocam algumas canções brasileiras das primeiras décadas deste século e os atores/manipuladores interpretam, vestidos com roupas de época, o espírito desses saraus. Essa dramatização, no entanto, nem sempre funciona com espontaneidade, parecendo um elemento algo artificial, especialmente pela necessidade dos atores mostrarem simpatia em relação à plateia.
A trama de Theatro de Brinquedo é, por força da própria fragilidade do material cênico, extremamente simples e direta. Os bonecos, com apenas 20 cm e não tridimensionais, contam uma história de falcatruas e vigarice, que é pouco mais do que uma sugestão para mostrar a técnica do teatro de brinquedo. Os bonecos têm um desenho simples e as mudanças de situações são marcadas pelas figuras em outras posições, algumas saborosamente divertidas. A forma de manipulação também não admite muita invenção. Os movimentos são horizontais e as mudanças de cenário exigem uma pausa um tanto longa (preenchida pela música).
A construção do teatrinho, que reproduz com detalhes um palco do século 19, já é em si um engenhoso e atraente quadro que singulariza esta forma de teatro. Os atores/manipuladores desempenham a sua função com o cuidado exigido pela miniatura. Mesmo que sejam menos satisfatórios como intérpretes – especialmente quando tentam encarnar personagens, os manipuladores sabem emprestar suas vozes para enriquecer esse jogo ingênuo de teatro.
Theatro de Brinquedo se converte numa delicada e despretensiosa forma de retomar uma arte tão distante da tecnologia e da pressa com que se depara o espectador contemporâneo. Em menos de uma hora, volta-se no tempo, devolvendo à cena um ritmo próprio da fruição.
Crítica: Theatro de Brinquedo **
Serviço:
Theatro de Brinquedo está em cartaz no Paço Imperial, de quinta-feira a domingo, às 19h. Ingressos a R$10.