Foto: Oswaldo Nikom

Matéria publicada no Jornal Tribuna da Imprensa
Por Rodrigo Farias Lima – Rio de Janeiro – 09.02.1988

Foto Ney Robson. O teatro infantil enfrenta dificuldades, pelo alto preço das produções e ausência de público, disseminando desesperança nos artistas

O Teatro Infantil vai à luta

Estava todo mundo lá: autores, diretores e representantes sindicais e de instituições federais (FUNDACEN), estaduais (Departamento Geral de Teatros) e municipais (RioArte). Mais de 100 pessoas na plateia do Tablado. E, como presença exponencial, a figura emblemática de Maria clara Machado, que é o teatro infantil brasileiro em pessoa ou, no mínimo, a sua personalidade mais representativa.

A significativa afluência e a importância dos nomes presentes testemunham a gravidade da fase que o teatro infantil vem atravessando: o número de produções está caindo, há muita gente desistindo, generaliza-se a desesperança.

São várias as causas dessa situação. Primeiro o custo das montagens é cada vez maior e, em contrapartida, o número de espetáculos semanais, limitados aos sábados e domingos, é diminuto, literalmente inviabilizando o retorno dos investimentos. Segundo, agrava-se a retração do público, por motivos econômicos e também porque a maioria dos pais ainda não se apercebeu de que o teatro pode exercer ação extremamente salutar na formação da criança, aos níveis do imaginário e do conhecimento. Terceiro, a própria categoria menospreza o gênero: na divisão dos espaços cênicos com o teatro adulto, este leva sempre a primazia, recusando qualquer concessão aos colegas do infantil e impossibilitando projetos artísticos mais ambiciosos.

A Comissão de Teatro Infantil do Sindicato de Artistas e Técnicos do Rio de Janeiro, que passou a existir formalmente a partir da reunião no Tablado, reconhece isto no manifesto que lançou para protestar contra a desconsideração da imprensa pelo teatro infantil. Aliás, esta é exatamente a questão que se tornou mais preocupante. Porque a grande imprensa, baseada não se sabe em que critérios (ou terão sido estritamente os de marketing?), baniu de seus segundos cadernos a figura do crítico de teatro infantil. E com essa manifestação de arrogante descaso – em que só a Tribuna da Imprensa passou a ser exceção – penalizou de uma só vez, o público e os artistas, ficando o primeiro sem referencial confiável e os segmentos sem uma opinião especializada.

Tudo isso foi ponderado naquele encontro altamente participativo. E se decidiram consensualmente várias iniciativas, entre as quais: a) uma campanha nos teatros, solicitando diretamente aos espectadores que escrevam aos jornais, solicitando a volta dos críticos; b) um retumbante evento, possivelmente no Aterro, com a presença maciça de grupos de teatro infantil visando alertar a sociedade para a relevância do teatro como fenômeno artístico indispensável à integração da criança no mundo em que vive; c) uma grande assembleia, no dia 29 deste mês de fevereiro, para debater a organização de um Seminário de Crítica de Teatro Infantil; d) aprofundamento do contato com escolas e professores, no sentido da interação teatro/educação; e) formação de uma associação de teatro para a infância e juventude, nos moldes da que já existe em São Paulo.

Estive no Tablado e saí com a convicção de que, desta vez, o teatro infantil vai mesmo a luta. Os vários órgãos oficiais responsáveis pelo repasse de meios aos produtores particulares de cultura não negarão apoio. E o sindicato também aderiu à luta, com entusiasmo e a capacidade de aglutinação de que sempre deram mostras líderes da classe como Alice Viveiros de Castro.