Crítica publicada no Site Pecinha é a Vovozinha
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 10.08.2018

Visual deslumbrante a serviço de temática forte e atual

Em época de eleições presidenciais no País, a alegórica Cia Noz, de Anie Welter, recupera um sucesso de 2015 – O Sonho de Maria Luísa – para falar às novas gerações sobre as ameaças à liberdade de expressão

Fundada em 2004, a Cia. Noz sempre uniu as linguagens de teatro, dança, animação de objetos, música e artes plásticas. O grupo tem uma estética muito parecida com as companhias XPTO (principalmente) e Pia Fraus, já que sua diretora, Anie Welter, passou por esses dois grupos antes de criar o seu. Se você frequenta o teatro para crianças e jovens feito em São Paulo, com certeza já conhece as peças da Noz, como Oras Bolas (2005), 100 + Nem Menos (2009), POP (2011), Cocô de Passarinho (2013) e Bê a Bach.

Em curtíssima temporada, que já se encerra neste próximo domingo no Sesc Belenzinho, a Cia. Noz está reapresentando um sucesso de 2015, O Sonho de Maria Luísa. Não perca por nada. Esse espetáculo nunca esteve tão atual. Anie Welter, em sua melhor forma, desfila um talento incrível para a espetacularização com conteúdo. O visual deslumbrante a serviço de uma temática forte. A família toda vai curtir e sair comentando sobre os riscos do autoritarismo, os malefícios da censura e a importância de sonhar.

O texto de Sheyla Coelho é fabular – e toda fábula bem escrita (como é o caso aqui) alcança alto grau de aceitação e identificação com o público. Num reino distante, o governante decide que todos os cidadãos têm de entregar seus sonhos para uma brigada. Ninguém pode mais sonhar. Esvazie-se cada cabeça. Há até os funcionários que trabalham recolhendo sonhos fujões. A menina Maria Luísa vai parar nesse reino e tenta desvendar o mistério de um barulhinho não identificado que povoa sua mente o tempo todo. No final, saberemos que esse martelar que tanto a incomoda é um sonho muito forte que ela tem – não revelarei aqui, para não estragar a surpresa do espetáculo.

Mil discursos, panfletos e militâncias sobre a liberdade de expressão não chegarão jamais aos pés da eficiência desse espetáculo em seduzir as crianças para assunto tão árduo. Que pena que o Brasil precise voltar a falar disso, depois de tudo o que o País já enfrentou em épocas passadas. Mas, sim, é uma peça fundamental para os dias de hoje, que antecedem as eleições presidenciais. O poder da linguagem alegórica para garantir a sobrevivência da arte e da imaginação.

A cenografia (Anie Welter e Renata Andrade). é um espetáculo à parte, como em todos os espetáculos da Cia. Noz. Você não vai acreditar no acertado uso das cores, no jogo frenético de objetos e adereços ultra expressivos, na dança dos balões a gás, no uso de escadas, cubos, bandeiras, móbiles e tantos outros recursos simples e criativos. A concepção das caixas-palco, que, ao final, quando giram, modificam todo o astral do espetáculo, é de GpeteanH. Os figurinos acompanham esse alto nível de criatividade (Anie Welter). As ‘cabeças’ dos personagens da Cia. Noz são sempre um ponto alto nessas composições. E a trilha do premiado Dr. Morris também é fundamental para  pontuar as ações e a expressão corporal – marca registrada nos elencos ‘dançantes’ desta companhia. Destaque, desta vez, para os sapateados de Felipe Lwe.

Serviço

Local: Teatro do Sesc Belenzinho
Endereço: Rua Padre Adelino, 1.000, Belenzinho – São Paulo
Telefone: (11) 2076-9700
Capacidade: 392 pessoas
Quando: Sábados e domingos, às 12h (meio-dia)
Duração: 55 min.
Classificação etária: Livre (indicada pela produção para crianças a partir de 4 anos)
Ingressos: R$ 20,00 (inteira); 10,00 (meia) e R$ 6,00 (credencial plena do Sesc)
Grátis para crianças até 12 anos
Temporada: Dias 4, 5, 11 e 12 de agosto de 2018