Fotos: Beto Amorim

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 31.10.2014

Barra 

Fabulosa Companhia faz seu lindo tributo aos sonhos

O infantil O Sonho de Jerônimo tem como trunfos a incrível trilha sonora original e a competente cenografia virtual em telão.

Na Bíblia, o sonho de São Jerônimo é bem conhecido, relacionado à sua fé e sua opção pelo cristianismo. Na história da dramaturgia universal, sonhar já foi explorado em clássicos retumbantes, como A Vida é Sonho, de Calderón de La Barca, Sonho de uma Noite de Verão, de Shakespeare, e na história utilizada por um dos balés mais famosos, O Quebra Nozes, de E.T.A. Hoffmann, entre tantos outros.

A excelente peça infantil em cartaz em São Paulo, no Teatro Alfa, chamada justamente de O Sonho de Jerônimo, rende tributo a todas essas obras, mas é baseada em uma lenda antiga, O Homem que Vai atrás do seu Sonho, registrada há 750 anos pelo poeta persa Jalal ad-Din Rumi. O grupo que decidiu correr atrás desse sonho é A Fabulosa Companhia, capitaneada por Eric Nowinski e que, em 2012, estreou com outra pérola, A Linha Mágica, bastante premiada. O autor da adaptação do poema persa é Sean Taylor, que também assinava o texto da atração anterior. Nascido na Inglaterra, SeanTaylor sempre foi fã da versão britânica desta lenda, The Pedlar of Swaffham. Para criar o texto, ele contou com o processo colaborativo de todo elenco e direção.

O menino Jerônimo Jerimum (Thomas Huszar, sempre ótimo) mora com o tio Plínio, cientista amalucado (o versátil André Grinberg, também nos papéis de Monstro, Jack e Comerciante). Ele sonha repetidas vezes que deve abandonar a casa do tio e ir atrás de sua felicidade. É o que ele decide fazer, na companhia de sua gata de estimação, que tem o divertido nome de Yakisoba (Clarice Espíndola). Depois de uma espécie de “jornada do herói”, Jerônimo finalmente descobre que a felicidade nunca esteve tão próxima dele.

Tudo isso se passa no palco com muita agilidade e graça, confirmando de novo o talento de Eric Nowinski na direção, que privilegia a música ao vivo, a cenografia virtual em telão e uma história bem contada por atores que dominam a cena com segurança incrível. O protagonista, por exemplo, Thomas Huszar, o Jerônimo, depois de sua ótima participação em A Linha Mágica, volta aqui com uma expressividade ainda mais vibrante. Seu corpo fala o tempo todo, assim como sua voz é ricamente trabalhada em nuances, como quando imita a narração de um jogo de futebol ou quando copia o sotaque de um suposto chef francês.

No telão, de novo, merece aplausos o trabalho refinado da diretora de arte Adriana Meirelles. Objetos saltam de dentro da tela e se materializam nas mãos dos atores com muita competência técnica e tocante funcionalidade cênica. A chuva virtual também é ótima. E outro quesito que merece menção, pelo alto teor de criatividade, é a música criada e executada ao vivo por André Vac (com a colaboração do ator Thomas Huszar nas letras). As canções são simplesmente sensacionais. Desde Chico Buarque, na trilha maravilhosa de Os Saltimbancos, eu não tinha ouvido outra canção tão boa sobre uma gata. E, há tempos, eu também não ouvia uma música tão apropriada para terminar uma peça infantil em alto astral. A canção final questiona, na letra, a obrigatoriedade do “final feliz”.

A conclusão é que O Sonho de Jerônimo é atração imperdível neste fim de ano teatral paulistano e confirma A Fabulosa Companhia como uma das melhores entre as novatas de São Paulo. Veio para ficar. Sorte nossa. Vamos ver?

Serviço

Teatro Alfa – Sala B
Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722, Santo Amaro
Tel. 11 5693- 4000
Sábados e domingos, às 16h
Ingressos: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia)
Até 30 de novembro