Bailarina de papel – Luana Piovani (segunda, a partir da esquerda) escolheu uma história na qual pudesse interagir ativamente na trama

Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Ricardo Schöpke – Rio de Janeiro – 12.06.2010

Perigos e virtudes de uma superprodução 

Peça não é fiel ao universo doloroso de Andersen

Não podemos negar a importância que representa a encenação de superproduções para o teatro para a infância e juventude. Através delas conseguimos levar para as crianças e jovens espetáculos com grandes qualidades técnicas e artísticas. Entretanto, um dos maiores perigos que projetos de grande montagem como estes representam, é justamente a discrepância entre o equilíbrio do investimento que é feito no setor estético-visual, contra o investimento que é feito no setor de conceito dramatúrgico. Isso faz com que muitos espetáculos sejam apenas um bom entretenimento para os olhos, porém ruins para os ouvidos. Anunciado com ares de grande produção e tendo em sua ficha técnica grandes nomes do teatro brasileiro, encontra-se em cartaz o espetáculo O Soldadinho e a Bailarina, dirigido pelo notável Gabriel Vilela e estrelado pela atriz Luana Piovani, Gabriel Villela, além, além de diretor é também cenógrafo e figurinista.

O que vemos em cena nada se parece com o universo fantástico e doloroso do original de Andersen. Em sua nova empreitada para o teatro infantil Luana Piovani, escolheu uma história onde pudesse interagir ativamente na trama, e assim foi dada pelos adaptadores Sergio Módena e Gustavo Wabner uma grande ênfase ao pequeno papel da bailarina.

A concepção de Gabriel Vilela para o espetáculo é muito confusa e o excesso de referências a diversos códigos já bastante usados em seus projetos anteriores, somado a mistura de várias influências: mineira, brasileira, dinamarquesa, inglesa, húngara e italiana; faz com que chegue até nós um espetáculo bastante frio e distante. Distante em todos os sentidos, tanto na difícil leitura dos códigos estabelecidos no cenário de Vilela, como também da distância que separa a plateia de atores. No palco, os atores estão dispostos muito no fundo da cena, em um cenário abstrato que pode tanto ser um quarto, como uma caixa gigante de brinquedos, ou um mundo fantástico e imaginário. Além de fazer com que a história do Soldadinho e da Bailarina fossem quase que uma réplica em miniatura do seu antológico Romeu e Julieta em parceria com o Galpão.

Em muitos momentos vemos a presença de Shakespeare nos textos e nas marcações, e também no uso excessivo de guarda-chuvas em diversas formas e variante. Realmente é muito difícil embarcar na viagem deste projeto, e entender o que a idealização do mesmo gostaria de passar para nós.