Crítica publicada no Jornal Teatrarte
Por Sergio Melgaço – Rio de Janeiro – 1989

Para pequeninos… e nem tanto

Quanto a aventura é um grande tesouro

O Segredo de Cocachim, atual cartaz do Teatro Ipanema, escrito por Denise Crispun, não é daqueles espetáculos que buscam grandes teorizações sobre o comportamento da criança e que perca tempo com mensagens profundas que, muitas vezes, aqueles a quem são endereçadas não estão nem um pouco interessados em decifrar. Extremamente lúdico, seu único objetivo é prender a atenção de espectador mirim e diverti-lo. E é precisamente isto o que faz por pouco menos de uma hora.

O texto, simples e direto, retoma uma das mais familiares brincadeiras de nossa infância, a busca ao tesouro, para mais uma vez reafirmar que o que importa não é o fim, o prêmio, o resultado materialista do jogo, mas as aventuras motivadas pela tentativa de obtê-lo. Sintonizada com a plateia de seu tempo, Denise permeia sua narrativa com citações reconhecidas por seu público e, sem didatismos ou tons professorais, coloca em cena duas crianças que transformam o palco em verdadeiro “playground” onde dramatizam uma divertida viagem pelas selvas, com a mesma seriedade e concentração que vemos nossos pequenos empregarem em suas brincadeiras.

A direção de Carina Cooper explora ao máximo os aspectos lúdicos apontados pelo texto. Utilizando-se de todo espaço do teatro, chega mesmo a envolver fisicamente a plateia como elemento cenográfico de sua montagem, obtendo como resultado final um espetáculo extremamente comunicativo e de ritmo vertiginoso, muito calcado no trabalho dos atores. Aliás, excelentes, Drica Moraes é uma atriz naturalmente cômica, capaz de dividir e pontuar suas falas com um certo estranhamento, alterando graves e agudos, intercalando diferentes ritmos e volumes, como se estivesse diante de uma pauta musical. Para compor sua Bia, não poupa esforços: lança mão de chaves certeiras de comédia, e sem espaços para sutilezas ou filigranas. Luiz Carlos Tourinho, ao contrário, cerca seu Beto com afetividade moleque cativante e, m4smo sem provocar o riso fácil, apresenta uma composição rigorosa e engraçada. Unidos, exercem com bastante eficiência a tarefa de conduzir sozinhos a trajetória proposta pelo binômio texto-direção.

Divertido, cumprindo exatamente o que promete, Cocachim corre, no entanto, um sério risco: ao envolver a plateia em sua trama, esta sente-se convidada a participar e eventualmente acaba fazendo-o de forma um tanto exagerada. Na sessão assistida por esse redator surgiram algumas “corujas” mirins no fundo do teatro, piando sem parar, mas os atores decidiram ignorá-las por um bom tempo, até que outros espectadores começaram a reclamar e uma frase vinda do palco, fez com que parte das aves-espectadoras se calassem. Ora que me desculpem os ecologistas, mas que está na selva, tem mesmo é que caçar as corujas que aparecem, sem medo de atrapalhas a estória. E os atores, pelo que apresentam em cena, tem boa munição para isto. A peça não sairia prejudicada, já que o texto-roteiro está bem aberto a intervenções e a montagem ainda ganharia um charme extra.