A pobreza de recursos da produção é compensada pela riqueza da criatividade na escolha dos objetos simples utilizados nas cenas

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 14.03.2014

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Contos alemães ganham boa versão nos palcos

Em O Rinoceronte, a Lua e o Tonel, temos um belo exemplo de adaptação teatral competente e eficiente

O espetáculo da Cia. Teatro Enlatado começa meio sinistro, com três atrizes vestidas com figurinos em preto e branco e bem incomuns em teatro infantil, o palco vazio, a ausência de cenário, a trilha moderninha… Aos poucos, literalmente rola um tonel em cena – forte símbolo para o mundo de histórias guardadas e que se pode retirar de dentro dessa espécie de contêiner mágico. E eis que o texto começa a surgir. Pronto. Já no primeiro minuto de texto, revela-se uma força e um encantamento que vão durar até o fim, e sempre num crescendo de criatividade. Assim é O Rinoceronte, a Lua e o Tonel, que estreou na semana passada no Teatro MuBE Nova Cultural, a simpática sala do complexo do Museu Brasileiro de Escultura.

A força está mesmo no texto, muito bem adaptado e também bastante valorizado pela direção. Ramiro Silveira assina ambas, adaptação e direção, e merece nossos aplausos pelas duas tarefas. Ele selecionou três contos do escritor alemão Peter Bichsel, O Homem que não Queria Saber mais Nada, Tio Iodok e A Terra é Redonda. Cada conto é protagonizado por uma das atrizes (Fernanda Mandagará, Maíra de Grandi e Mariana Mantovani), mas as três participam de todas as cenas, de forma ágil, quase coreografada e com muita potência corporal. Nem todas têm a mesma força na questão vocal, mas a direção soube espertamente conduzi-las para a valorização da palavra falada e o poder hipnotizante de uma história bem contada. Isso é lindo de constatar durante o espetáculo. O ritmo e a cadência de um conto bem narrado são preservados o tempo todo – aliás, um tempo bem curto, pois o espetáculo dura em torno de 40 minutos, demonstrando o sábio poder de síntese do adaptador-diretor.

A visível pobreza de recursos da produção é compensada pela riqueza da criatividade na escolha dos objetos simples utilizados nas cenas, provando mais uma vez que o talento pode vencer o baixo orçamento. Uma lua e um globo terrestre espetados em varetinhas, uma escadinha, pedaços de palavras, plaquetas com simbologias e sinalizações… cada elemento enriquece a narrativa, sem ostentar luxo, mas carregando nos significados e sugestões. Tudo isso, feito de forma menos criativa, resultaria infantilóide, didático e óbvio. Não é o caso aqui. A ideia, por trás de tudo, é valorizar as fases em que as crianças fazem muitas perguntas e vivem com a curiosidade atiçada. Corra pra ver.

Serviço

Teatro MuBE Nova Cultural
Rua Alemanha, 221- Jd. Europa
Tel. 4305-7521
Sábados às 15h e domingos às 11h
R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)
Até 27 de abril