O Rei Mago, de Thiago Santiago, uma visão sem ortodoxia, no Teatro Gláucio Gill

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Eliana Yunes – Rio de Janeiro – 25.10.1986

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Relendo uma História Antiga

Não há dúvida quanto à localização espaço-temporal deste conto, nem vacilo quanto ao contexto, quando se nomeia a personagem: Melchior. E ele não vem só. Logo depois é Gaspar e Balthasar e no fim da linha, está o presépio com o Menino Jesus. Mas não se pense que esta é a versão bíblica dos reis magos montada nas portas do Natal, por acaso. Este texto de Thiago Santiago foi escrito para o Auto de Natal nos Arcos da Lapa em 1984 e descartado por sua falta de ortodoxia. Só que, se a narrativa do profeta já cativa, esta encanta. Seguindo o primeiro mago do reis, que de tão sábio deixa os súditos em autogestão e parte atrás da estrela nova, o autor reescreve por, um ângulo novo, a história que todos conhecem. Mas será mesmo que as crianças de hoje conhecem esta história ou apenas já ouviram falar dos reis magos? Seria importante, em verdade, que a conhecessem, para que pudessem valorizar ainda mais esta versão que está no palco do Gláucio Gill com um bom elenco.

Na primeira partida, o encontro com o bêbado, representando todos os pobres e deserdados, cuja sabedoria simples e inusitada também reconhece na estrela o sinal de um mundo novo. O encontro dos reis é uma festa, assim como a retomada do caminho, cujo cenário é absolutamente simples, mas muito valorizado por uma excelente iluminação e direção musical. O texto segue uma linguagem lúdica que alterna alegria e sofrimento até a Jerusalém de Herodes. Mas não pensem em melodrama. A sensibilidade aliada a um gênero saltimbanco do comportamento dos reis, desliza para uma hábil caricatura do rei Herodes. Depois do toque de humor que domina toda a cena, a peça recupera as cores da magia e de busca do impossível materializado na ponta da estrela: um menino frágil justifica a jornada e sustenta o mistério do mundo.

Tanto o texto quanto a transposição cênica denotam uma linguagem artística apurada capaz de interessar mais às crianças pré-adolescentes que as de pré-escolar. Direção na medida para valorizar esta versão mais humana dos reis
magos, que além dos bons atores conta com uma equipe técnica que se esmerou para realizar um bonito espetáculo.