Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Ricardo Schöpke – Rio de Janeiro – 19.06.2010
Mero pastiche do universo Disney
Peça acrescenta personagens desnecessários à trama
O Teatro Vannucci, no Shopping da Gávea vem se constituindo, há anos como a pior referência do teatro infantil carioca. Difícil entender como um teatro tão bem localizado na Gávea, bairro nobre da Zona Sul, possa ter um espaço de tão pouca representatividade artística para este setor tão carente de opções. Apresentando peças para crianças durante todas as tardes de sábados e domingos, e de hora em hora, administração do espaço demonstra claramente a sua vocação em fazer do teatro infantil um mero produto comercial. Atualmente voltado a montagens grosseiras de peças livremente inspiradas em clássicos dos estúdios Disney / Pixar e Dreamworks, o teatro abriga nada menos do que três montagens relacionadas às gigantes da animação: A Era do Gelo (às 15h), Cinderela de Gato e Sapato (às 16h) e O Rei Leão (às 17h10) – a última, sendo impossível de ser qualificada como um espetáculo de teatro.
A história da peça tenta ser parcialmente fiel ao filme original, mas não passa de um pastiche, com infelizes acréscimos de personagens extremamente ruins e desnecessários. Inspirada no universo de Shakespeare, vindas de Hamlet, O Rei Leão conta a história de Simbá, um filhote de leão nascido nas selvas africanas, cujo destino era herdar o trono do pai, o rei Mufasa. No seu caminho estava Scar, seu invejoso tio que planejava a morte de pai e filho para que possa se apoderar do trono. Quando Simbá se vê injustamente acusado pela morte de Mufasa, sua única chance de salvar sua vida é se exilar das Terras do reino. Ele encontra abrigo junto a outros dois excluídos da sociedade, um javali (Puma) e um suricate (Timão). Anos depois, ao ser descoberto por Nala, sua amiga de infância, Simbá deve decidir assumir suas responsabilidades como rei ou seguir com seu novo estilo de vida.
A direção assinada por Roberto Resende, neste caso deve ser a responsável em organizar os atores em cena, pois de resto não existe nada que possa ser digno de nota. A cenografia é composta de um fundo todo amassado e com uma pintura primária de uma paisagem de um suposto descampado africano. Vemos também um tecido pendurado, que serve para algumas tentativas de acrobacias circenses.
A peça é divulgada como sendo um musical que mescla teatro, dança e circo, mas o que vemos é um desfile de situações canhestras.
Dessa forma, o Teatro Vanucci acaba prestando um desserviço para o público de teatro infantil no Rio. Cabe também aos pais, o papel de evitar levar seus filhos a espetáculos que tratam a todos como seres desprovidos de mínima inteligência e bom gosto.