Um texto ingênuo, mas sem perder a atualidade. Foto Mônica Nunes

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 25.07.1992

 

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Delícias na dignidade do Tablado

Não é um teatrinho, nem um teatrão, muito menos uma casa de espetáculos. É o Tablado. Com suas paredes de tijolo aparente, repletas de postes que registram sua grandiosidade mundo afora, ele esta plantado no Jardim Botânico, com a dignidade das árvores seculares que por lá habitam. Muito mais do que isso, o Tablado se tornou ao longo dos seus 40 anos de existência um verdadeiro templo da arte de representar. Sua diretora, Maria Clara Machado, porém, não criou uma escola de vaidosas prime donne. Seus atores participam de todo o processo teatral, da criação da luz e da trilha sonora à preparação de figurinos e adereços.

O Rapto das Cebolinhas, texto concebido por Maria Clara em 1958, em cartaz no Tablado, também sob sua direção, é o resultado dessa bem-sucedida experiência. Com enredo bastante ingênuo para os dias de hoje (roubo de cebolinhas), mesmo assim a peça não perde a atualidade. Seus personagens vivem uma envolvente trama de suspense, que leva a garotada na plateia a participar ativamente do espetáculo.

Em cena, o Coronel Vovô, vivido por Jaime Leibovitch, nos traz a agradável lembrança dos vovôs da infância, som seus segredos e plantinhas misteriosas ficando com o vilão da história, o Camaleão Alface, interpretado por André Mattos, todos os ganchos e tiques das boas histórias de detetive. Muito interessantes também são as participações de Gabriel Fomm, como o Cachorro Gaspar; Aldo Paccini, como o Burro Simeão; Lavínia Fernandes, como a Gata Florípedes; e o engraçado Médico sanitarista vivido por Gérson Sanginnito.

Complementando pela criativa trilha sonora de Toninho Lopes, pelos figurinos de Kalma Murtinho e pela iluminação de Roberto Santos. O Rapto das Cebolinhas é um delicioso espetáculo, que deve ser visto pelas crianças e revisto pelos adultos com o mesmo prazer.

Cotação: 2 estrelas (Bom)