O assaltante e o assaltado

Crítica publicada no O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 30.12.1978

Barra

 

As Cebolinhas Neutras

O Rapto das Cebolinhas é, sem qualquer dúvida, um texto menor na extensa e elogiada obra infantil de Maria Clara Machado. Mas, ainda assim, ele continua a motivar encenações e até publicações (acabo de receber o livro Teatro Infantil, editado pelo Centro de Estudos Brasileiros de Buenos Aires, com três peças de Maria Clara: O Rapto das Cebolinhas, A Bruxinha Que Era Boa e O Cavalinho Azul). Atualmente, a peça está sendo levada no Teatro Opinião, com direção de José Lavigne. O diretor teve contra si, visivelmente, a dificuldade de realizar um espetáculo em cima de um texto que apresenta uma trama bastante tola e que não traz a carga de fantasia e de sensibilidade poética tão característica da autora. A historinha é tola, o ladrão é “mau de nascença”, a confissão do “camaleão” é dramaturgicamente arbitrária, os personagens continuam se escondendo para ver ou ouvir coisas comprometedoras. Dessa forma, o espetáculo dirigido por Lavigne é quase tão acomodado e conservador quanto o texto. Os melhores momentos são exatamente quando o diretor utiliza recursos da chanchada, mobilizando imediatamente a criançada (a entrada do médico, por exemplo). A direção, além do mais, não é auxiliada pelos aspectos visuais. O cenário de Jonas Eduardo apresenta apenas o mínimo exigido pelo texto e os figurinos, de Jonas Eduardo, também, são bastante infelizes na sua concepção, tanto quanto à forma, quanto à combinação de cores. O figurino da Gata, por exemplo, é muito bonito, inteligente, gostoso de se ver: mas é uma exceção. O elenco apresenta o mesmo resultado que o espetáculo: não agride mas também não acrescenta. Destacam-se pela comunicabilidade e pela exploração das possibilidades de seus personagens os atores Márcio Trigo (Médico) e Maria Padilha (Gata).

O Rapto das Cebolinhas é uma montagem que tem, como característica básica, o tom de neutralidade. Se o público não for ao Opinião, não perderá nada de significativo; e, se for, verá seus filhos se divertindo em alguns momentos.

 

Legenda da foto: O assaltante e o assaltado.