Crítica publicada no Jornal do Brasil, Caderno B
Por Eliana Yunes – Rio de Janeiro – 31.10.1987

Barra

Olhos Abertos e Ouvidos Atentos

Há o que ver e ouvir, neste fim-de-semana prolongado. Uma boa opção pode ser dar um pulo ao Carlos Gomes para assistir a um raro espetáculo quase inteiramente musical, dedicado à criança: O que é que tem Dentro? Promove
o disco do mesmo nome (pela gravadora 3M), do Trio Eugenio Dale, Sheila Quintaneiro e Bete Zalamau, que já tem um disco de produção independente. Os cantores/compositores se fazem acompanhadas da Banda Super, onde teclados
(Rafael), bateria (Sobral), sopros (Ítalo) e baixo (Zeca) criam um som moderno para o público infantil, sem que os maiores fiquem de fora.

Além dos ritmos que vão do frevo ao rock, a coreografia e os figurinos dão um toque de produção profissionalizada ao espetáculo que escorrega justamente quando tenta mobilizar o estereótipo infantil com brincadeiras e solicitações
de intervenção da plateia, como que desconfiado de que proposta de fazer ouvir música não seria capaz de segurar o interesse do espectador. Ledo engano. Alguns decibéis a menos nas caixas de som e o público participaria de imediato,
seguindo letra e música sem sobressaltos. No disco, aliás, que não conta com todas as canções do show, o exagero desaparece e as crianças logo assimilam algumas faixas de maior apelo lúdico, como a que dá título ao espetáculo (Rique Pantoja), além de Bibi (Dodo Ferreira e Zé Haikal), Tira a Blusa (Norma Nogueira e Márcio Merquior) e Bruxa do Mal.

Um grupo de crianças compõe o vocal e o jogo cênico: Nara, Pablo e Pilar está à vontade com as acrobacias e papéis que lhes cabe no show. O roteiro musical da turma se transforma num convite à plateia para viajar do campo à cidade, do
circo à fantasia, sem outro apelo que o próprio concerto, já que o grupo se propõe a um espetáculo “sério”.