Bate-Papo com a produtora Luiza Jorge sobre o Prêmio São Paulo de Teatro Infantil e Jovem
CBTIJ: Fale sobre sua atividade como produtora e como chegou ao Prêmio.
Luiza Jorge: Iniciei minha carreira no teatro como atriz e logo percebi que se não produzisse meus espetáculos estaria restringindo meu trabalho. A partir dos espetáculos, comecei a produzir e criar eventos e projetos culturais. No fim dos anos 90, o que é hoje o Projeto São Paulo, do qual o Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem é uma das ações, veio do Rio de Janeiro com o nome de Prêmio Coca-Cola de Teatro Jovem. Ao longo desses anos, por várias reestruturações da empresa patrocinadora, o nome do projeto foi alterado algumas vezes até que a partir de 2014 passou a ter o nome atual.
CBTIJ: Faça um resumo histórico sobre o Prêmio, seus formatos, suas dificuldades, até o Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem
Luiza Jorge: O formato do prêmio passou por algumas modificações nestes 25 anos. Ele tinha menos categorias inicialmente. Acho fundamental valorizar todos os profissionais que compõem um espetáculo, sendo assim, incluí as categorias de Ator e Atriz Coadjuvantes, diferenciei as categorias de Autoria de Texto Original e de Texto Adaptado e fiz o mesmo com a Trilha Musical. Nas premiações em geral essas categorias ficam dentro de uma única, mas por considerá-las como trabalhos diferenciados, classifiquei em Original e Adaptado. Também criei o Prêmio Sustentabilidade para espetáculos com foco neste segmento e o Prêmio Especial para destacar algo relevante que não se enquadrasse em nenhuma das categorias. No total, o Prêmio São Paulo valoriza os profissionais em 18 categorias. Além do troféu, o vencedor leva o valor de 5 mil reais nas categorias individuais e de 10 mil reais nos melhores espetáculos Infantil, Jovem e Sustentabilidade.
Muitas vezes acontece de espetáculos que são premiados em várias categorias repassarem esses valores para o início de uma nova produção. Infelizmente, o corte de patrocínio a este prêmio vai acarretar inúmeras perdas aos profissionais do teatro infantil e jovem não só de São Paulo, mas de todo o estado. Para ser avaliado pela comissão julgadora e concorrer ao prêmio, bastava que o espetáculo fizesse a sua estreia nacional na capital com 12 apresentações.
CBTIJ: Qual era a realidade do teatro para a infância e juventude em São Paulo há 25 anos e qual foi a contribuição do Prêmio para o cenário atual?
Luiza Jorge: Eram poucos os grupos que mantinham produções mais frequentes e inovadoras, como por exemplo, os Parlapatões, o pessoal da Pia Fraus, a Cia. Truks, o XPTO do Osvaldo Gabrieli e mais dois gênios que infelizmente não se encontram mais entre nós, Ilo Kugli, com o Vento Forte, e as grandes encenações de Vladimir Capella.
Acredito que o prêmio tenha motivado inúmeros artistas. É importante ter o seu trabalho reconhecido, é uma maneira de saber que se está no caminho certo. Nós da curadoria e comissão julgadora não nos limitávamos apenas à função de premiar “o melhor”, e sim, em acompanhar a evolução de cada um dos artistas e grupos a cada nova produção. Quando necessário, ou mesmo quando procurado por algum deles, estávamos sempre abertos para uma conversa e orientação.
Em todos esses anos, vi o nascimento de inúmeros grupos e artistas que hoje estão estabilizados e seguem com seus repertórios, alguns até com seus próprios espaços. Sei que temos alguma participação nessas conquistas. Ser um dos premiados ou apenas estar na lista dos indicados sempre abriram portas. Eu tenho o costume de dizer que o prêmio é uma espécie do “selo ISO 9001”, que é um timbre internacional de qualidade. Muitos festivais, entidades e programadores de teatros sempre me procuram pra saber como está a temporada e quem está indicado. Funcionávamos como uma espécie de pré-seleção para esses setores. E digo “funcionávamos” com uma dor muito grande. Sinto que teremos muitas perdas se não tivermos condições de um novo patrocínio.
CBTIJ: Como estão as atividades teatrais para o público infantil e jovem em São Paulo?
Luiza Jorge: Contamos hoje com uma intensa programação para o público infantil e jovem, muito maior se compararmos ao teatro para o público adulto, e com um adicional – a maioria dos grupos possui repertórios, o que possibilita um número maior de apresentações. Por outro lado, o curto período das temporadas me preocupa. Se o público não for muito ligado, não há como se programar, conhecer e acompanhar o trabalho de uma nova companhia, ou mesmo das mais conhecidas que eles já admiram.
É uma enxurrada de espetáculos. De uns oito anos pra cá, muitos grupos se formaram e têm que batalhar muito pra se tornarem conhecidos. Essa rotatividade desgasta as produções e afeta a formação de público, não fortalecendo o interesse no teatro. Isso acaba se refletindo na ausência de plateias nos espetáculos adultos.
A solução para isso é muito complexa, são poucos espaços para apresentações e um número crescente de artistas.
CBTIJ: Quais as perspectivas de se retomar a premiação visto o cenário atual?
Luiza Jorge: Diante do cenário atual, a falta de interesse do governo em relação à cultura acaba refletindo no posicionamento das empresas. Porém, estou empenhada, não desisto fácil. Nesses 25 anos, passei por inúmeras mudanças e consegui reverter reveses para manter o projeto. Agora é um período mais difícil, mas somos artistas, temos uma substância diferenciada no DNA que sempre ativa possibilidades criativas. Considero este momento uma pausa. De alguma maneira tentarei retornar não só com o prêmio São Paulo, mas com o projeto como um todo, com todas as suas ações sociais e educativas.