Esperança Mota é o bichinho do planeta na história de Ziraldo.
Foto Silvio Pozzato


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 02.05.1998

 

Barra

Trama inteligente e produção cuidadosa 

O tema é daqueles que se não são muito bem trabalhados, podem se tornar um show explícito de poesia desnecessária. Mas o autor é Ziraldo, um craque em histórias, bem contadas, que trata o seu público infantil sem nenhuma condescendência. Assim, a história de um bichinho que vive num planeta lilás e que sai pelo mundo para encontrar as cores, e que muito bem poderia rechear o seu enredo das famigeradas situações do tipo “bom dia, sol, bom dia, bicho” subverte o lugar comum e apresenta uma trama inteligente e nem por isso menos animada. Um desses casos em que a literatura chega à cena, sem a habitual comparação, quase sempre correta, de que o livro é melhor do que a peça. Aqui, não acontece.

O Planeta Lilás, em cartaz no Teatro do Leblon, é uma adaptação para o palco feita por Carlos Arruda, que também dirige o espetáculo. A dupla empreitada chega ao palco em feliz sintonia. Na cena toda branca (a cor chega com a interferência da iluminação) Esperança Mota, num dos seus melhores papéis, é o engraçado bicho do planeta que constrói uma nave e sai pelo mundo para encontrar outras cores, que não o lilás do seu planeta. Nessa viagem, tirando a formalidade dos personagens: Branco (Ângelo Coimbra) e Preto (Ludh Raposo) as cores pintam o sete em calculada movimentação e divertida brincadeira. De quebra nessa viagem, ainda encontra pelo caminho as letras do alfabeto e o ponto final, responsáveis pelas melhores interferências do espetáculo.

Carlos Arruda monta um espetáculo de movimentos, sem coreografias que cheguem antes da encenação. Uma combinação rara nos nossos palcos. Em movimentos quase acrobáticos, os atores formam no palco palavras de fácil identificação pela plateia. Também é muito interessante a atuação de Margareth Arrais como o ponto final que apresenta toda a família da pontuação com gestual bem desenvolvido. Puxando a história. Esperança Mota é o bichinho do planeta, numa interpretação divertida, sem apelos ao riso fácil. Seu grande trunfo é mostrar sinceramente a curiosidade do personagem.

Mas se Carlos Arruda resolve tão bem as cenas de conjunto, às vezes deixa as de diálogos maiores se arrastarem um pouco. Um pequeno detalhe que poderia ser resolvido num corte e recorte do texto. Ainda para se rever, o som altíssimo do teatro que por vezes acaba distorcendo a trilha musical – Débora Murbach e Albano Sales -, que chega truncada na plateia.

Completando a cena, os figurinos de Hugo Martinelli são bastante criativos e integrados à ação. O do bichinho tem como acessório uma boia revestida de tecido, usada muito bem por Esperança para o molejo do seu personagem.

O Planeta Lilás é uma produção cuidadosa, assinada por Paula Gama, que não poupou esforços ao transferir o premiado espetáculo de São Paulo para o Rio. Uma boa oportunidade para o público conhecer espetáculos de outras praças ao mesmo tempo em que se diverte.

Cotação: 2 estrelas (Bom)