Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 14.08.2015
Cordel da melhor qualidade diverte com palhaçadas
O Pavão Misterioso, com o grupo Namakaca, deita e rola com um ingênuo humor popular e autêntica estética de brasilidade
O caprichado folheto distribuído ao público já começa com o seguinte texto endereçado às crianças: “É com enorme prazer que apresentamos a vocês uma história muito antiga. Uma história de amor, escrita no século passado, no final dos anos 1920, quando vocês nem eram nascidos. Nem mesmo os pais de vocês eram nascidos. E se vocês tiverem menos de dez anos de idade, possivelmente nem mesmo os seus avós tinham nascido.”
Trata-se de O Romance do Pavão Misterioso, um dos romances mais importantes de nossa literatura de cordel, de autoria do paraibano José Camelo de Melo Rezende (1885-1964). A peça, a cargo do grupo Namakaca, fundado em 2004, e em cartaz até o dia 6 em São Paulo, no Teatro Alfa, encurtou o nome do livro e se chama apenas O Pavão Misterioso.
Para as crianças que não sabem o que é cordel, o programa da peça também explica de jeito muito simples e direto: “São histórias escritas em versos, impressas em papel jornal e dobradas na forma de pequenos folhetos. Esses folhetos eram vendidos nas feiras, pendurados em cordões. Por isso, o nome literatura de cordel.”
Dirigido pela premiada Rhena de Faria (de A Rainha Procura), com adaptação dela e do próprio grupo, o espetáculo é divertidíssimo, cheio de ritmo, uma alegria ingênua, forte comunicação popular e louvável clima de brasilidade. A própria diretora é fã de cordel e coleciona títulos há 20 anos. Quando o grupo Namakaca a convidou para a direção, ela não teve dúvidas em escolher o texto de O Pavão Misterioso. Deu muito certo. O tipo de humor que se desenrola no palco é bem popular, no estilo das paródias do início da carreira dos Trapalhões na televisão, por exemplo. Você não vai ficar sem rir, isso é garantido. Destaque para o auxílio da trilha sonora, muito bem aproveitada, a cargo de André Caccia Bava. Christiane Galvan também ofereceu preciosa contribuição, assinando figurinos inspirados nos desenhos dos folhetos de cordel.
O texto tem vários trechos rimados feito poesia, para dar uma ideia ao público mirim de como eram escritos os cordéis. Isso torna o espetáculo ainda mais perfeito para aproveitamento pelas escolas. Fica a dica aos professores e coordenadores pedagógicos.
Fiquei muito bem impressionado com o inusitado início da peça: um velório, com direito a caixão e até com defunto dentro. Isso é raro em teatro infantil e não deixa de ser corajoso. Mas é bem realizado, com sutileza e bom gosto.
O elenco (Cafi Otta, Du Circo e Montanha Carvalho) é ótimo, muito entrosado e ágil na troca dos vários papeis. Montanha Carvalho, por exemplo, dá um show de diversão e deboche quando está na pele da mocinha ‘bonita’ Creuza. Há dez anos especializado na linguagem da palhaçaria, o grupo realmente mostra que entende do que faz. Entre os personagens há dois irmãos muito ricos, um conde malvado, uma donzela presa num quarto de sobrado, um inventor cheio de ideias malucas e… o pavão misterioso – na verdade, uma engenhoca parecida com um aeroplano, imitando uma ave voadora. A plateia até se espanta com tanta criatividade do pavão em cena. Não perca!
Serviço
Sala B do Teatro Alfa
Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722 – Santo Amaro, São Paulo
Tel. (11) 5693-4000
Sábados e domingos, às 17h30
Ingressos: R$ 30,00 (inteira) e R$15,00 (meia, estudantes e maiores de 60 anos)
Até 6 de setembro