Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 17.08.1976

Barra

O belo Patinho Feio

Esse é um tema eterno e constantemente utilizado no estudo do ser humano. O aspecto da rejeição (de um modo geral) e da rejeição por ser diferente (de forma mais especifica) é matéria de estudo de antropólogos a psicanalista, passando por sociólogos, historiadores e educadores. Ao retomar o tema do patinho feio, Maria Clara Machado toca num ponto que atinge sempre a sensibilidade da criança. É interessante observar que quando o Patinho, declara Ninguém gosta de Mim, várias crianças automaticamente respondem “Eu gosto, eu gosto” (e isso ocorreu nas duas vezes em que vi a peça).

Há um cartaz dos textos de Maria Clara onde ela retoma temas clássicos. O Patinho Feio e A Verdadeira História da Gata Borralheira. Todavia, são diferentes as formas de abordagem. Na Gata Borralheira, Maria Clara revisa a história sob um enfoque crítico e atualizado (Cinderela perde seu sapato de propósito); e, com O Patinho Feio ela assume o tema clássico, acrescentando-lhe sua dose permanente de humor e trabalhando numa linguagem musical.

Nesse sentido, é de importância fundamental para o sucesso da montagem o trabalho do compositor John Neschling, Maria Clara tem, com a música, o primeiro estímulo para a obtenção dos climas considerados necessários para contar sua história de relacionamento humano e de preconceitos. E, de repente tudo se completa numa linguagem harmônica, com a iluminação de Jorginho de Carvalho e a participação significativa de Maurício Sette o expressivo cenário e o verdadeiro show de figurinos.

Os atores também apresentam uma contribuição efetiva, destacando-se os dois tons diversos de maternidade de Maria Cristina Gatti (Mãe Pata e Mãe), a elegância e a postura de Toninho Lopes (Galo) o tom crítico de Sura Berditchevsky (Comadre Pata) e a tranquila segurança de Thaís Balloni (Rainha Pata). Fernando Berditchevsky no papel título, atua corretamente, sem caracterizar individualmente sua presença no espetáculo mas, também, sem comprometer. O resto do elenco tem uma participação firme, sendo que há muita unidade e charme nas cenas dos patinhos, consequência direta do trabalho da coreógrafa Nelly Laport, que soube movimentar os atores dentro da beleza da música e das necessidades do texto.

O Patinho Feio, em cartaz no tablado, é um espetáculo bonito que coloca em questão uma realidade sempre muito próxima da criança.

Cotação: 4 estrelas.