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Ricardo Siqueira e Fátima Queiroz em O Pastelão e a Torta. Foto Martha Bicalho

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 05.12.1992

A divertida farsa dos malandros medievais

A arte de enganar, uma tônica da atualidade, remonta a muitos séculos, e o tempo ao invés de desgastá-la, só lhe emprestou mais sofisticação.

O Pastelão e a Torta, farsa medieval do século 13 de autor desconhecido, cartaz no Museu da República, é uma história simples, mas de tema tão universal que sua compreensão acontece sem esforço, hoje, daqui a cinquenta anos, aqui ou em Bombaim. Dois mortos de fome reúnem todos os seus esforços para conseguir um bom jantar. Na lista das atividades, o trabalho está fora de cogitação. Em suas andanças, os dois escutam, por acaso, a conversa do emproado pasteleiro e sua submissa mulher sobre um pastelão que deve ser entregue a um mensageiro que fizer um determinado sinal. Aproveitando a ausência do brutamontes, a dupla se apodera do petisco para a desgraça da madame pasteleira, que lava uma incrível surra do marido. Mas se a falcatrua deu certo da primeira vez, tentar a segunda não custa nada. É aí que eles se estrepam.

Fátima Queiroz e Alex Casari, autores e diretores, realizam um espetáculo nos mínimos detalhes. Da música ao vivo que pontua o texto, da cenografia de Carlos Batata e Javarini, aos figurinos, bonecos e adereços da própria Fátima, em parceria com Beth Belllando e Regina Freitas, tudo foi concebido com extremo bom-gosto e delicadeza de quem montra um brinquedo de armar.

Em cena, Ricardo Siqueira e Fátima Queiroz realizam, mais uma vez, um trabalho, construído passo-a-passo, onde nenhuma nuance é desperdiçada. Acumulando tantas funções, era de se esperar que o trabalho da atriz fosse prejudicado o que absolutamente não acontece. De frágil figura, Fátima se transforma sob as luzes do refletor, e sua manipulação de bonecos é tão precisa que, mesmo duplicando personagens que contracenam entre si, suas diferenças são marcantes.

O Pastelão e Torta, embora prejudicado em alguns momentos pelos decibéis a mais que circundam o Museu da Republico, é um espetáculo encantador, que deve ser assistido por crianças, adultos e profissionais das artes cênicas.

Cotação: 2 estrelas (Bom)