Usando atores e bonecos, a peça adapta com delicadeza um conto dos irmãos Grimm

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 22.10.1994

 

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Toque mágico na fábula

Cada vez que um encenador promete trazer ao palco uma fábula internacional transposta para a realidade brasileira, com inspiração no folclore do Nordeste, o espectador foge da plateia. A razão por certo, está em que, na maioria das vezes, essas montagens chegam carregadas de ranço nacionalista, onde o culto à estética pobre é levado às últimas consequências. Uma hora da saudade para os remanescentes da tribo que, no final dos anos 60, colocaram a cultura regional na vitrine do sul maravilha.

Carlos Augusto Nazareth, autor e diretor de O Pássaro do Limo Verde, também é um apaixonado pela riqueza do folclore nordestino. Seu enorme bom gosto e senso de espetáculo, porém, resgata para o palco o melhor do produto nacional, num invólucro muito especial. A história original dos irmãos Grimm, trazida na bagagem dos colonizadores e recriada pelos contadores do Nordeste, ganha do encenador todas as possibilidades teatrais. No palco, a mistura de atores, manipuladores de bonecos, músicos, dançarinos e cantadores é perfeitamente harmônica e de grande efeito plástico. O truque de usar o mesmo personagem em diversas dimensões reafirma o toque do encenador, que em nada se assemelha aos apelos de prestidigitação dos shows. Um achado de proposital delicadeza.

Com o apoio técnico de criadores em momentos muitos felizes de suas produções, a cenógrafa Lídia Kosovski e o figurista Ney Madeira concebem um trabalho de extrema beleza e afinidade. As tapadeiras e empanadas de tecido com detalhes recortados e os figurinos inspirados em trajes medievais valorizam visualmente a história. A direção musical de Marcos Aurê e a coreografia de Vera Lopes são interessantes contrapontos a performance. Também de valor indispensável, a contribuição de Suzanita Freire na criação dos movimentos dos bonecos.

Nesta perfeita ambientação, para um texto cheio de elementos fantásticos. Rogério Freitas cria seus personagens com ricas passagens na interpretação. Cristine Braga e Maria Assunção fazem das irmãs Cora e Coralina simpáticas vilãs, pelo uso do humor. Mônica Miller, tem bonita presença cênica como Maria, a dona do pássaro. Fátima Patrício é convincente como a velha contadora de histórias Evandro Melo se sai bem nos dois papeis que lhe cabem.

Sem dúvida nenhuma, é um dos mais atraentes espetáculos da temporada.

O Pássaro do Limo Verde está em cartaz no Paço Imperial, aos sábados e domingos, às 17h. Ingressos a R$ 6.

Cotação: 4 estrelas (Excelente)