Tonio Carvalho em O Ouro das Estrelas, no Teatro Villa-Lobos

Matéria Publicada no Jornal O Globo
Por Eliana Yunes – Rio de Janeiro – 24.05.1986

 

Vídeo e Teatro

Na nova geração de autores para teatro infantil, Tonio Carvalho vem acumulando prêmios desde 1980 seja com os textos, seja nas encenações. Basta lembrar os de Dramaturgia Infantil do Inacen com As Três Luas de Junho e uma de Julho, 1980; As Histórias um Dia e Seis Lenços, 1982; e A Idade do Sonho, 1984, e as seguidas indicações para o Troféu Mambembe, tanto individualmente quanto para o Grupo Teatro Feliz-Meu-Bem.

Nas primeiras peças ”na busca de atender a um público que procura viver seus sentimentos e procura explicação para os fatos da vida” um expressivo volume de recursos cênicos, capaz de fascinar e envolver o pequeno espectador pareceu inevitável. Mas a partir de A Idade do Sonho, o despojamento da cena começou a dar lugar mais expressivo para o ator e sua fala. É ainda o que ocorre no bonito espetáculo em cartaz no Villa-Lobos, O Ouro das Estrelas, que aproxima duas linguagens, a do vídeo e a do teatro, sobre um solo comum, a infância.

Lidando no cotidiano cheio de conflitos com o mundo adulto e acossado pelas imagens da moderna tecnologia com quem solitariamente se esforça por dialogar, a criança resolve na fantasia, sua ânsia inconsciente de valores mais duradouros e seu desejo de uma participação ativa na condução da história, a sua, pelo menos.

A partir deste ponto sensível, o texto transita da sala de jantar onde reina a TV e seus seriados de peripécias galácticas para o sonho/sonho do menino, que se aventura no universo para descobrir o segredo de ser feliz ou O Ouro das Estrelas. O móvel inicial para a mudança de espaço/tempo é o desaparecimento do papagaio Omaetue seu companheiro de apartamento e ponte afetiva com o mundo. Nesta busca, desliza o fio de ação que mescla o relato televisivo com a imaginação do menino, no encontro com o Velho Mago e a dupla Simbiótica que ameaça o coração do universo.

Ainda que os elementos da história não sejam propriamente originais, o texto permite que o menino seja de fato o protagonista, tomando decisões e agindo por iniciativa própria. Ele é capaz de perceber lições de vida sem meramente repeti-las e confirma sua inserção nos destinos do mundo, na medida em que salva o Velho Mago que com ele partilhará o segredo do universo. No encontro das gerações, o mito do eterno retorno e uma profissão de fé no futuro humano.

No palco, Vicente Maiolino que também já dirigira o premiado A Idade do Sonho repete o bom desempenho anterior, com marcações felizes, inteligente e despojada cenografia que se confunde com os próprios objetos animados, além de figurinos justos para o clima geral da peça. A direção musical encontrou os recursos apropriados para sublinhar os sentimentos e emoções que sustentam as cenas, assim como a iluminação correta valoriza o trabalho dos atores. Não fora o tom grandiloquente de certas falas do Mago, longas o suficiente para não serem compreendidas pelos menores mas cujo efeito geral é o de aumentar o mistério, estaríamos diante de um espetáculo sem retoques.