Crítica publicada pelo Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 12.02.2016

Barra

Quando sonho e fantasia vencem a apatia do “tanto faz”

 Cia. Ouro Velho brilha com O Novo Rei de Beleléu, celebrando a cultura popular

Em 2014, a Cia. Ouro Velho estreou com louvor e prêmios a sua primeira montagem para crianças, O Lugar de Onde se Vê. Falava do universo teatral e da importância da imaginação, mesclando as tramas de Hamlet, Cyrano de Bergerac e Arlecchino, Servidor de Dois Patrões. Uma ousadia que deu certo.

Agora, fui ver sua segunda incursão no teatro infantil: O Novo Rei de Beleléu, em cartaz no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo. Saí igualmente impressionado pelo talento e acerto da companhia em todos os quesitos.

Desta vez, o foco é a cultura popular, a literatura de cordel e o universo dos folguedos populares – como a Folia de Reis e o Boi-Bumbá. Os autores Lara Hassum e Paulo Marcos criaram uma fábula encantadora sobre a importância dos sonhos e da fantasia, em contraposição à ganância, à sede de poder e às guerras. O delicioso personagem que encarna as artes e, por isso, a imaginação vence os três vilões que querem virar reis de Beleléu, uma cidade que mergulhou no feitiço do “tanto faz”, ou seja, a população não tem mais vontade, nem desejo, nem iniciativa. Para eles, tudo tanto faz. Resta ao sonho entrar em ação. Linda ideia, muito bem desenvolvida dramaturgicamente, com ritmo e toda a difícil cadência das rimas de cordel.

O espetáculo é dirigido com muita competência por Paulo Marcos. Os atores começam a peça no saguão, apresentando os instrumentos às crianças e deixando que elas os manipulem. Muito bom. No elenco, estão Aline Gonçalves, Tássia Melo, Lara Hassum, Aline Penteado, Taís Luna e Danilla Figueiredo. Lara Hassum está muito bem como o protagonista, um simplório sanfoneiro de rua. O que ela faz com a voz é incrível. Mulher fazendo papel de homem poderia cair no estereótipo, mas a atriz foi muito bem dirigida e tem um domínio perfeito de técnica vocal e expressão corporal. Interpretação digna de prêmio, a meu ver.

Os bonecos utilizados pela montagem são bem diferentes do que tenho visto no teatro de animação há anos. São moles, desarticulados, muito criativos. E, para mim, o ápice é a canção em que se conta à plateia como nove sonhos viraram só dois. É sensacional, divertida e bem empolgante. Na trilha, referências a coco, ciranda, maracatu, repente, reisados. Uma alegria só. Não perca por nada. E atenção escolas: é um programão para levar alunos.

Serviço

Teatro Sérgio Cardoso – Sala Paschoal Carlos Magno
Rua Rui Barbosa 153, Bela Vista, São Paulo
Ttel. 11 3288-0136
Sábados e domingos às 16h
Ingressos: R$ 20,00 (inteira)
Até 21/02