Crítica publicada no Jornal O Globo
Por Rita Kauffman – Rio de Janeiro – 1985
Um espetáculo que cumpre o que promete: estimular a juventude
É no mínimo, estimulante, assistir à montagem de O Noviço, de Martins Pena, que o Grupo Tapa apresenta de segunda a sexta-feira, no Teatro Ipanema. Iniciando o Festival de Teatro Brasileiro (um passeio pela dramaturgia nacional, que abrange de Martins Pena e Machado de Assis, passando por França Júnior, Artur e Aloísio Azevedo) que o Tapa vai apresentar até o final do ano letivo, O Noviço marca uma nova fase do Projeto Escola que o grupo vem desenvolvendo há três anos: a de interessar pelo teatro os estudantes de Segundo Grau com dificuldades de acesso a ele. É bom ver que ainda há gente que se mantém fiel às suas proposições e não percorre os caminhos mais fáceis. Apesar de buscar uma plateia específica, O Noviço certamente agradará a qualquer pessoa, de qualquer idade, que queira passar uma hora e dez minutos divertindo-se com uma história nada incomum mas que caracteriza o Rio da metade do século passado: uma viúva rica casa-se com um interesseiro, que cuida de despachar o sobrinho dela para um convento e tentar fazer o mesmo com a enteada: suas intenções se frustram com a chegada da primeira mulher, com quem também era legalmente casado. Produzida com a qualidade que tem pautado as realizações do Tapa, seu diretor, Eduardo Tolentino de Araújo, entre outros prêmios, recebeu o Mambembe de Revelação em 83 por Viúva, porém Honesta, de Nelson Rodrigues, e recentemente o Mambembe e o Molière infantis por Pinóquio.
O clima do espetáculo é de brincadeira, em que a cumplicidade da plateia está sempre entre plateia/teatro. A simplicidade da montagem visa facilitar o approach e não é gratuita. Vale lembrar que esta montagem de O Noviço mambembou pelas escolas públicas e particulares durante bom período, tendo que se adaptar aos locais mais diversos, como campos de esportes auditórios e salas de aulas. A ala masculina do elenco compõe seus personagens com muito espírito. Cláudio Gaya é um impagável Padre Mestre: Eduardo Wotzik sai-se bem como o personagem-título e Ernani Moraes faz com muita garra e comicidade o marido da viúva rica, Brian Penido tem discreta participação.
Convém destacar a direção musical de José Lourenço, os figurinos sempre corretos de Lola Tolentino, os cenários eficientes e criativos de Ricardo Ferreira e Olinto Mendes e a iluminação de Wagner Pinto.