O Neurônio Apaixonado, comédia cujo forte é a plasticidade: trama tênue prejudica


Crítica publicada no Jornal do Brasil 
por Carlos Augusto Nazareth  Rio de Janeiro – 01.09.2006 

 

 

 

Barra

Os neurônios são bons. Só falta fluidez 

O Neurônio Apaixonado ou o que é que Você tem na Cabeça, Menino? É uma comédia infanto-juvenil, baseada na coleção de livros As Aventuras de um Neurônio Lembrador de Roberto Lenté, e em cartaz no Centro Cultural Telemar. O ponto alto do espetáculo é a plasticidade. O texto teatral, de Cláudia Valli, relata como os neurônios funcionam por meio do cotidiano do menino Pedro, sobrinho de um cientista.

É de difícil execução a proposta da autora: colocar em cena os neurônios como agentes e, ao mesmo tempo, espectadores e narradores, do que acontece com Pedro. Muitas vezes esses níveis se confundem e prejudicam a fluidez da narrativa. E como também não há um fio condutor definido, o espectador, por vezes, se perde e  não consegue se envolver com a tênue trama.

Na verdade, são as situações vividas por Pedro, que são enfocadas. Dá-se muito mais atenção a estas ações isoladas do que ao desenrolar de uma possível uma história de amor, como sugere o título. As ações se sucedem, quadro a quadro, como num desenho animado, apenas interdependentes.

Ivanir Calado, que assina a direção, e optou por uma linguagem cênica que remete ao desenho animado, um recurso já bastante utilizado em teatro, sobretudo no teatro infanto-juvenil. A montagem instaura um tom crítico interno à cena, que dificulta o entendimento da relação entre os neurônios e as reações de Pedro.

A verdade do que é dito é colocada em questão pela própria linha de interpretação, que conduz o elenco  rumo a personagens estereotipados, compostos com  lente de aumento, que acabam trabalhando contra a história.

Já a produção do espetáculo é primorosa. O cenário de Ivanir Calado é criativo e cria um ambiente absolutamente adequado à ação que se passa no interior do cérebro de Pedro. Alia-se ao cenário, a luz de Rogério Wiltgen. Uma luz com um desenho complexo, que dialogando em perfeita sintonia com o cenário, criando, ambos, um ambiente cênico exato para as peripécias dos neurônios.

Os figurinos de Luciana Maia, também criativos, conseguem materializar a imagem que os leigos têm dos neurônios, a partir dos livros de ciência. Há um todo harmônico entre os diversos elementos plásticos do espetáculo. Para completar, a animação sempre competente de Renato Villarouca  e Rico Villarouca, enriquece o universo de imagens.

O elenco – Ine Baumam, Otávio Reis e Sérgio Migual Braga – tem um desempenho equilibrado, que atende a linha apontada pela direção: são neurônios, cada um deles responsável por uma ação, reação ou emoção de Pedro. Ludoval Campos e Mariana Oliveira dobram papéis, fazendo, além de neurônios, o cientista e o seu sobrinho, Pedro, que iniciam e fecham o espetáculo. A trilha de Tato Taborda cria um som imaginado de energia e conexões, bem sublinhado pela luz.