Flor do Sereno: cenário natural

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 21.11.92

 

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Pôr-do-sol no palco

Sem dúvida nenhuma, O Mercado São José de Artes de Laranjeiras termina o ano com um saldo positivo quanto à qualidade de suas produções teatrais dirigidas ao público infantil. Mesmo com uma estrutura precária – como o teatro é aberto, o ruído do trânsito intenso da Rua das Laranjeiras pode interferir no espetáculo -, o local acabou adquirindo um certo charme, entre eles o horário da encenação que permite o público assistir ao pôr-do-sol em cena.

O Misterioso Rapto de Flor do Sereno, uma transposição para o palco da história de Haroldo Bruno feita pelo também diretor Carlos Augusto Nazareth se vale desse elemento natural para reforçar a ambientação cênica proposta pelo texto. Com produção cuidadosa, o espetáculo impressiona desde o primeiro momento. Os cenários e figurinos de João Gomes causam tal impacto que é impossível prestar atenção à outra coisa. Com isso, o começo da história se perde um pouco, mas nada que comprometa o seu entendimento: Sazafrás, o terrível demônio, provoca a ira dos inocentes quando rouba de Zé Grande a última lembrança do pai e Flor do Sereno, seu verdadeiro amor.

A direção de Carlos Augusto trata bem de atores e espetáculos trazendo a cena elementos que só enriquecem o enredo. Josie Antelo duplicando personagens, emociona a plateia na composição do enternecedor Manduca. Evandro Melo empresta a Zé Grande a força dos heróis anônimos. Valéria Maria e Cristina Raibold fazem das suas comadres interessantes contrapontos no desenrolar da aventura, ficando com Jorge de Tarso o difícil papel de narrador.

O Misterioso Rapto de Flor do Sereno tem ainda sensível trilha musical de Marco Aurê e delicada iluminação de Rogério Wiltgen, fechando assim o conjunto de elementos necessários para um grande espetáculo.

Cotação: 2 estrelas (Bom)