Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 16.05.2014
Musical chato e cansativo empobrece obra de Ziraldo
Montagem de O Menino Maluquinho, cheia de recursos, peca por falta de criatividade e talento
Superprodução vistosa e caprichada, O Menino Maluquinho, em cartaz no
Teatro Bradesco, em São Paulo, não consegue, a meu ver, alcançar a qualidade do famoso e encantador livro de Ziraldo, que já teve várias adaptações, incluindo o cinema e a televisão. Em cena, nesta produção da 4ACT Entretenimento e Clic, vemos 14 crianças entre 8 e 11 anos, além de alguns atores adultos (como o ótimo Daniel Costa, o narrador, que depois se revela como o menino protagonista na idade adulta).
O elenco é acompanhado por uma orquestra composta por 12 músicos profissionais e 5 mirins (Projeto Guri). Com base em argumento do próprio Ziraldo, a adaptação é assinada por Juliano Marceano (mais conhecido no Rio de Janeiro, onde encenou recentemente o seu Não Me Diga Adeus). A direção geral é de Daniela Stirbulov, direção musical a cargo de Paulo Nogueira, coreografias de Kátia Barros e canções originalmente compostas por Paulo Ocanha e Daniel Carvalho.
Mas vamos às minhas observações. A direção, a despeito do visual de encher os olhos, é sem criatividade, com marcações burocráticas e uma falta de ritmo que é pecado mortal no teatro, ainda mais em um musical para crianças. O texto é cansativo, quase sem graça nenhuma. Além de não ter humor, não tem poesia. Não fisga ninguém para o universo daquelas crianças, como se dá de imediato com o livro.
Pecado ainda maior é a pobreza das letras das músicas, muito extensas, palavrosas e nada contagiantes. Não há nem sequer um refrão que empolgue, durante todo o espetáculo. Com letras fracas, os arranjos musicais ficam todos pasteurizados, muito parecidos entre si, gerando um certo fastio do tipo: “ah, não… e lá vem mais uma música igual à anterior…”. Para piorar, o canto das crianças é tão sem vida e sem expressão que, em boa parte das canções, nem se entende totalmente o que elas estão cantando, como se faltassem legendas… Não seria de todo mal colocar legendas na hora das músicas.
A empregada doméstica da casa do menino (Mari Rosinski), que fala o tempo todo com uma colher de pau se fazendo passar por microfone, começa bem, mas depois da segunda aparição já fica previsível e caricata demais. O episódio da morte do avô (Manolo Rodrigues) fica a meio caminho de sua realização, como se diretora e adaptador tivessem medo de ser piegas ou, então, de chocar os pais por estarem mostrando a morte em um espetáculo infantil. Péssimo.
Figurinos são estereotipados, infelizmente, inclusive revelando um certo desconforto de algumas crianças por terem de vestir roupas tão caricatas. O garoto que faz o menino maluquinho (João Lucas Martins) demonstra insegurança ao ter de colocar a panela na cabeça: o acessório, tão conhecido do personagem, não lhe deixa à vontade e parece que o pequeno ator tem medo que a panela caia no chão a qualquer momento. O que se salva é a cenografia (Paula Izzo), que sabiamente apoiou-se nas ilustrações e traços característicos do cartunista Ziraldo. Módulos que entram e saem do palco, representando quarto, cozinha, banheiro e sala de aula, funcionam muito bem – único sinal de criatividade em meio a tantos equívocos.
O livro premiado de Ziraldo, editado no mundo todo, merecia mais.
Serviço
Teatro Bradesco – Piso Perdizes do Bourbon Shopping São Paulo
Rua Turiassu, 2100, 3º piso, Pompeia
Tel.: 11 3670-4100
Sábados e domingos, às 16 horas
Ingressos de R$ 30,00 a R$ 100,00
Até 25 de maio