Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 28.05.1975

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O Menino das Ruas do Mundo

O desconhecimento da linguagem específica do teatro é o principal causador dessa sucessão de equívocos que é espetáculo O Menino das Ruas do Mundo. Como o texto e a direção são de responsabilidade da mesma pessoa – Reginaldo Cipolatti – e como esses dois elementos da encenação carecem de estrutura técnica, fica quase impossível definir, com precisão, o limite exato entre as falhas do autor e as do diretor. De qualquer forma, é indiscutível que o principal equívoco está na infelicíssima ideia de fazer todo o espetáculo através de playback, com todos os diálogos gravados e com os atores apenas fazendo mímica. Essa triste bolação do diretor traz, à montagem, inúmeras desvantagens: os atores, ao invés de serem expressivos, conseguem ser apenas decorativos, pois tem de estar com a atenção inteiramente voltada para o gravador – logo, a ação é pobre, sem imaginação: na mesma medida em que os atores funcionam como simples ilustradores é impossível para eles, trabalhar com um mínimo de credibilidade – logo, o elenco funciona sem verdade, o que prejudica profundamente o processo de empatia: além do mais, a qualidade do som não é boa. O que determina um progressivo cansaço auditivo e faz com que o público não entenda boa parte dos diálogos.

O texto carece da carpintaria teatral mais óbvia. Ele não se desenvolve; a ação que ele estabelece é vazia, pois cenicamente nada acontece (em Beckett também nada acontece, mas há a ávida do homem palpitando numa forma artística!); e há instantes em que a ação é totalmente gratuita (o cochicho do Coelho com o Rato, por exemplo). Além do mais, o Menino emite conceitos demasiadamente adultos (“Quando se cresce é que se começa a morrer”), e o Homem filosofa a todo o momento, de um modo distante, sem autoridade e muito pouco teatral.

O cenário de Valdir Carnaúba, Rolcenei e Labo Ceci, é de grande pobreza criativa, principalmente se levarmos em consideração que é uma peça para crianças (a cor predominante é o preto) e que se trata de um sonho (e o que menos existe no cenário é fantasia). Os figurinos de Rolcinéia e Maria Lúcia têm unidade, são visualmente agradáveis e apresentam, como elementos negativos, apenas as máscaras: são artesanalmente mal realizadas.

O Menino das Ruas do Mundo, em cartaz no Teatro Jayme Costa, tem muito pouco interesse para acriança. É uma peça cansativa pelo uso do playback; o elenco não tem condições de rendimento, pois está totalmente limitado pelo gravador: o Coelho mostra que não se deve votar no melhor e sim naquele que nos dá presentes (no caso, chocolates); e o atraso, neste domingo, foi de 45 minutos, num total desrespeito ao público. Os responsáveis pela montagem distribuem chocolates antes do espetáculo começar para as crianças essa é, sem dúvida, a melhor cena da peça.

Recomendações:

Criançando, A Viagem de Barquinho, Você Tem um Caleidoscópio?, Pluft.