Crítica publicada no Jornal O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 17.06.1978
A força do Mago
O Mago das Cores, em cartaz no teatro da Praia, é, sem dúvida, o espetáculo mais importante da atual temporada. É duro ter de constatar que “o espetáculo mais importante da temporada” carioca é francês. O texto, a direção, os cenários (o ponto alto do trabalho), as músicas – tudo veio da França. Apenas a interpretação é feita por atores brasileiros (e, mesmo assim, dentro da impostação dada pelos atores franceses na versão original a que assisti em Petrópolis no último festival de Teatro de Bonecos). Cabe nesse caso um elogio à visão do produtor Rodrigo Farias Lima que, percebendo a qualidade do espetáculo, comprou a produção para explorá-la no mercado carioca.
Estamos em junho e esse primeiro semestre deixa a desejar quanto ao nível do nosso teatro infantil. Sendo assim, o aparecimento de O Mago das Cores torna-se uma presença expressiva dentro do panorama e um programa obrigatório para pais e crianças cariocas. (Justiça seja feita: se o panorama fosse bastante significativo, ainda assim O Mago das Cores teria seu lugar).
Essa é uma peça que atua, principalmente, sobre o aspecto visual. A abertura progressiva (e sempre deslumbrante) do cenário, as modificações quanto às formas e as cores, tudo isso vai despertando a fantasia em cada espectador. É evidente que para isso contribui o poder encantatório das figuras, desenhos e objetos, obra do francês Jean Philippe Boin. A direção de Serge Ruest e de Pato explora decisivamente o trabalho do cenógrafo e a encenação carrega sempre muita beleza e um clima agradável, misto de brincadeira, festa e sonho. O texto de Veronique Rateau, propondo “ao diabo a uniformidade” e sugerindo que de “mil tintas pintemos a vida, misturando as cores com a fantasia”, recebe um tratamento, uma montagem absolutamente coerente com suas ideias básicas. É pena que um problema notado em Petrópolis (com os atores franceses) repita-se aqui no Teatro da Praia: a “era cinzenta” estende-se demasiadamente e a encenação se arrasta um pouco. Mas, com o aparecimento das cores, a encenação ganha um novo impulso e corre bem até o final. No espetáculo atual notei ainda a existências de certos “buracos”, uma visível falta de acerto técnico. Parece que ainda não se conseguiu o ritmo e o tempo exatos, principalmente com o som.
O trabalho dos atores Dirceu Rabello e José Roberto Mendes é correto, mas os dois já tiveram contra si o pior obstáculo: a obrigação de seguir a linha original criada pelos atores franceses. Isso leva o ator mais a imitar que a criar e, com isso, o espetáculo pode ganhar em eficácia, mas perde em espontaneidade.
O Mago das Cores é, por enquanto, a montagem infantil mais importante do ano. E ela consegue ainda ter uma característica difícil de ser encontrada: deslumbra e envolve desde os pequenininhos até os adultos. Não deixe de levar seus filhos.