Crítica publicada no Jornal O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 14.10.1978
Um mago por dez cruzeiros
Amanhã, domingo, num horário especial (dez e meia da manhã) será apresentado ao preço único de Cr$ 10 o melhor espetáculo infantil da temporada: O Mago das Cores, no Teatro Gláucio Gill. Com essa apresentação encerram-se, na área do teatro infantil, as comemorações oficiais pela passagem da Semana da Criança. Essa promoção do SNT permite que o público carioca assista a alguns dos melhores espetáculos em cartaz ao preço barato de Cr$ 10.
Há uma certa frustração por se saber que O Mago das Cores é uma encenação basicamente francesa. Tendo seu centro de comunicação na força visual, O Mago das Cores tem seu sucesso determinado principalmente pelo trabalho de Jeann Phillippe Boin, responsável pelos desenhos, pelas formas animadas e pelos objetos. Mas, além das soluções visuais, também o texto é francês (Veronique Rateau), como a encenação (Rüest e Pato) e como também a música (Jean Denis Bennet).
A contribuição nacional encontra-se na tradução de Olga Savary (agradável, fluente), na interpretação de Dirceu Rabelo e José Roberto Mendes e na produção de Rodrigo Farias Lima. Mas essa menor participação nacional não invalida os bons resultados obtidos pelo espetáculo. A grande falha ainda é o longo tempo em que a platéia permanece convivendo com a era cinzenta. Todo o enorme tempo gasto com o discurso inicial, aliás, uma característica tipicamente francesa, além de causar uma monotonia visual com o domínio das cores preto e branco, cansa um pouco porque o texto e o espetáculo não evoluem. Mas, com o aparecimento progressivo das cores, a encenação vai crescendo, pega embalo e se desenvolve bem até o final.
Quando escrevi a crítica de O Mago das Cores, em junho, afirmei que esta peça era uma presença expressiva num panorama bastante fraco. Estamos em outubro e não houve grandes avanços. A reunião do Prêmio Mambembe para definir os finalistas do segundo quadrimestre só levou três espetáculos em consideração: Quem Matou o Leão? de Maria Clara Machado; A Revolução dos Patos, de Walter Quaglia; e O Canhão Eletrônico, de Ricardo Mack Filgueiras. E esses são os espetáculos que alcançam um nível de qualidade razoável, mas que estão muito longe do muito bom. Tanto é assim que o júri do Mambembe, por total ausência de trabalhos expressivos, não conseguiu indicar autor, diretor e grupo, movimento ou personalidade. Se o terceiro item não é assim tão vital, chega a ser surpreendente que, no Rio de Janeiro, em quatro meses, não tenha havido um texto e um trabalho de direção que merecessem premiação.
Por tudo isso, volta a ter importância à montagem de O Mago das Cores; e volta a ter importância ainda maior num momento em que seu preço ficará bastante reduzido. Relembro que a apresentação é única e pela manhã. Para os pais que tem melhor poder aquisitivo, a peça continuará em cartaz aos sábados e domingos, às 16h, ao preço único de Cr$ 40.
Esperamos que, no próximo ano, a programação oficial da Semana da Criança vise mais a Zona Norte, a Zona Rural e os orfanatos. Aí será encontrada a população mais necessitada desse tipo de promoção.