Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 15.08.1992

 

Barra

O fascínio que os grandes clássicos do teatro exercem sobre atores e diretores faz com que suas montagens voltem a cena com regularidade. Comenta-se que é quase impossível a um profissional das artes cênicas não ter participado, pelo menos uma vez, de hits nacionais como O Auto da Compadecida, Morte e vida Severina ou Pluft, o Fantasminha. Dos internacionais, Shakespeare e Gogol parecem ser os preferidos de nove entre dez estrelas do palco.

O Inspetor Geral, com adaptação e direção de Célia Bispo e Roberto Dória, em cartaz no Teatro Tereza Rachel, é a segunda experiência da dupla em levar ao público infantil um texto já consagrado. Em 1991, comandando a Cia. Teatral Nosconosco, Célia e Roberto trouxeram a cena Sonho de uma noite de verão, montada a partir de sua oficina teatral, com jovens entre 11 e 17 anos. Apesar da pouca experiência dos atores, o espetáculo tinha como grande trunfo a boa direção e a produção.

Nesta segunda montagem, os diretores, os diretores do Nosconosco optaram por transpor a ação do clássico de Gogol para o reino animal. A pequena aldeia russa de Ramolgor é habitada por ratinhos e ratões, vivendo a aventura de esconder de um falso inspetor geral todas as falcatruas cometidas pelas autoridades governamentais desta gelada ratolândia.

Com cenários e figurinos que lembram ilustrações dos antigos livros de histórias, a primeira impressão que se tem é a de que a peça é dedicada a crianças de pouca idade, que ficariam fascinadas com o lindo brinquedo armado no palco. O humor cáustico de Gogol e a sucessão de situações apresentadas na encenação, porém, fazem com que essas mesmas crianças percam muito do entendimento do texto, sendo quase impossível que elas compreendam o enredo.

Apesar dos elementos complicadores do texto em relação a concepção da montagem, é de se louvar a carinhosa e bem-cuidada produção e direção que Célia Bispo e Roberto Dória realizaram. Fica a cargo da dupla apenas a reavaliação da linguagem do espetáculo e do tipo de público que pretendem atingir.

Cotação: 1 estrela ( regular )