Crítica publicada na Revista Visão
Por Bárbara Heliodora – Rio de Janeiro – 10.06.1987
Enfim, um grupo que fala e faz
Na Laura Alvim, os autores brasileiros chegam aos jovens
O Grupo TAPA inicia no Teatro Laura Alvim, no Rio de Janeiro, com o espetáculo O Homem que Sabia Javanês, o terceiro ano de seu Festival de Teatro Brasileiro, um projeto cujo objetivo é apresentar autores nacionais (de teatro ou não) a estudantes. E talvez seu sucesso e continuidade – sim, porque um projeto desses chegar ao terceiro ano, no Brasil, já é um fenômeno – se devam à inspiração que lhe deu nome: em vez de tomar a atitude irritante e superior do missionário fadado a empurrar “cultura” pela goela abaixo de uma plateia a ser salva das trevas da ignorância, este grupo, tão jovem quanto seu público, prefere fazer um festival.
Aí, parece, reside o segredo do projeto: o prazer e a alegria dos que fazem o espetáculo e desejam contagiar plateias de sua mesma faixa etária com esses sentimentos. Assim, é bom ver Martins Pena, França Júnior, Artur Azevedo e, agora, Lima Barreto deixarem de ser distantes biografias para tomar corpo no palco e dialogar com os estudantes. Estudantes dos quais se fala mal sem, geralmente, oferecer-lhes nada que possa despertar seu interesse, mercê de metodologias mofadas, exploradas por professores mal preparados e mal pagos.
Grupo que cresce – O TAPA já tem um grupo sênior que, no momento, está em São Paulo apresentando seu repertório para o público convencional (Viúva, porém Honesta, no Teatro Aliança Francesa). O setor mais jovem do grupo ficou no Rio com o Festival de Teatro Brasileiro. E seu O Homem que Sabia Javanês – adaptação do conto de Lima Barreto feita por Anamaria Nunes – sustenta o nível do trabalho anterior, com um espetáculo simples, direto e despretensioso, mas certamente imaginativo, que preserva a crítica inteligente do original, tão molieresca em seu objetivo de atacar os vícios sem ferir os indivíduos.
A denúncia do culto brasileiro à esperteza, ao golpe, à vigarice chega com clareza à plateia, já que a direção de Eduardo Wotzik, apoiada em uma adaptação viva e eficiente, é mantida no clima e andamento certos para sua concepção cênica. Para o sucesso do todo colaboram os figurinos de Lola Tolentino, que também usam de simplicidade e imaginação para formar o alegre (triste???) quadro de falsas aparências bem-sucedidas no país do carnaval.
Em um elenco formado por elementos de experiência desigual, é inevitável haver diferenças de rendimento e, a não ser o protagonista Castelo (Flávio Antônio), que se sai bem da empreitada, não é justo destacar nomes. Até porque todos (E. Lemos, F. Rabello, M. Furtado, P. Riani, R. Correa, S. Kruger, V. Regina e W. Rabelo) entram no espírito do espetáculo, resultando o conjunto superior às suas partes.