Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 17.07.2005

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O Guardião das Histórias das 1001 Noites: Peça do Villa-Lobos precisa de ajustes, mas é agradável

Histórias mal contadas pela irmã mais avoada da princesa Sherazade

No espetáculo O Guardião das Histórias das 1.001 Noites, em cartaz no Espaço 3 do Teatro VilIa-Lobos, Fátima Café utiliza o teatro de bonecos para apresentar ao público infantil a história da atrapalhada irmã de Sherazade, que deseja tornar se uma contadora de histórias. Só que ela enfrenta um sério obstáculo: sua crônica falta de memória, o que leva o poderoso Guardião das Histórias a amedrontá-la com ameaças constantes de confisco de todos os seus personagens.

Na trama, a autora cria situações divertidas, que começam no momento em que a aspirante a contadora descobre que esqueceu um de seus bonecos em casa. Para não interromper a história, ela é obrigada a usar sua criatividade, improvisando um boneco a partir de um pedaço de tecido. E para encobrir cada novo esquecimento, ela inventa novas soluções, que vão desde a utilização de uma armação de óculos como personagem, até a convocação de um dos integrantes do público para viver um sultão.

Cenário é dividido em dois ambientes

As saídas encontradas pela autora para fazer a contadora driblar a vigilância do guardião
são interessantes, mas a forma como estão inseridas no espetáculo apresenta alguns problemas. O principal deles está no fato de a personagem falar para as crianças o que está acontecendo em cena. Como o público infantil está muito acostumado ao faz de conta, ele não necessita de explicações para embarcar na transformação dos elementos cênicos em personagens. Fora isso, os divertidos esquecimentos da personagem acabam perdendo a graça pelo excesso de repetições. Fica a impressão de que a autora utiliza esse recurso para alongar o texto.

Também não se entende muito bem por que Fátima Café concebe um cenário dividido em dois ambientes – um com almofadas douradas, e outro, com almofadas em tons de terra – se ela, a única atriz da peça, ocupa só um deles. Aquele outro espaço no palco cria no público a expectativa de que um outro personagem entrará em cena, para contar uma nova história. E quem sabe o resultado da montagem não seria melhor se a autora enxugasse o texto e acrescentasse mais uma história? Um outro ator em cena poderia inclusive ajudá-la na manipulação dos diferentes elementos cênicos, que é prejudicada por um detalhe do figurino: as correntes do chapéu da personagem, que acabam se embaralhando com os cordões que prendem os bonecos à cabeça da atriz.

Iluminação reforça os muitos climas da peça

Fátima Café e Carlos Café saem-se bem na criação dos divertidos bonecos, assim como Renato Machado na iluminação, que reforça os diferentes climas exigidos pela montagem.

Apesar de precisar de alguns ajustes, O Guardião das Histórias das 1001 Noites consegue ser um espetáculo agradável para o público infantil.