Crítica publicada na Tribuna da Imprensa
P
or Lionel Fischer – Rio de Janeiro – 1998

Barra

Paixão impossível no Teatro Rubens Corrêa

Publicado há 140 anos, o romance O Guarani, de José de Alencar, ganha agora sua primeira versão teatral, assinada por Angélica Lopes. O texto, que tem como tema central a devoção do índio Peri à jovem branca Ceci, está em cartaz no Teatro Rubens Corrêa, em versão assinada por Cláudio Handrey. À frente de numeroso elenco, Mateus Rocha, Sâmara Felippo, Esperança Motta, Issac Bardavid e Emílio Orciollo Netto.

A adaptação de Angélica Lopes possibilita ao espectador que não tenha lido o romance uma razoável aproximação com a obra. Entretanto, o resultado final deixa um pouco a desejar, sobretudo no que diz respeito a passagem do tempo, trabalhada de forma um tanto confusa.

Com relação à direção de Cláudio Handrey, sua funcionalidade reside na precisão rítmica e agilidade das transições, cabendo também registrar o vigor de algumas passagens envolvendo os índios. O único e grave senão fica por conta do momento em que Isabel e Álvaro ressuscitam, pois aí deveria haver uma radical mudança de iluminação – como está, a cena ganha contornos inteiramente absurdos.

No elenco, o trabalho de maior destaque é o de Emílio Orciollo Netto, na pele do mercenário Loredano – de longe, o único personagem digno de interesse. Intérpretes experientes como Isaac Bardavid (D. Antonio), Sérgio Fonta (Aires Gomes) e Regiana Antonini (D. Laureana) exibem segurança, enquanto Mateus Rocha (Peri) e Sâmara Felippo (Ceci) ainda não reúnem condições técnicas para arcar com o peso de protagonistas – no teatro, bem entendido, pois este tem exigências infinitamente maiores do que as da telinha, onde ambos estão iniciando suas carreiras.

Exibindo uma estrutura plana e não realista, a cenografia de Doris Rollemberg atende a todas as exigências da montagem. A mesma eficiência está presente nos figurinos de Samuel Abrantes, que mesmo atrelados à época evidenciam algumas liberdades – as botas não eram usadas então. A luz de Leysa Vidal é correta, exceção feita à passagem citada do casal que ressuscita.

O Guarani – Adaptação de Angélica Lopes do romance homônimo de José de Alencar. Direção de Cláudio Handrey. Com Sâmara Felippo, Mateus Rocha e outros. Teatro Rubens Corrêa.